A FEIRANTE DE QUATRO MARIDOS

Peço gentil atenção

Em tudo que vou falar

A feirante pediu

E não posso me calar

Ela mesma foi quem disse

Não vá jamais amolar

O tema tem compromisso

Queira, porém perceber

A mulher e seus maridos

Um sentir, um conceber

Todos eles diferentes

Hoje mesmo vou saber.

Feirante de Jaguaribe

Naquela quarta qualquer

Foi me pegando num canto

Me dizendo: - Sou Mulher!

Comendo naquele prato

Batendo com seu talher.

- Escreva tudo que digo

E bote neste seu drama

Favor, nada de mentira

Não troque mato por grama

Me mostre tudo que fez

Para não cair na disgrama.

O seu primeiro marido

Terrivelmente machão

Quis dá uma de gostoso

Dormindo no seu colchão

Chegava de madrugada

Querendo ser sabichão.

O seu segundo marido

Um tremendo pabuloso

Nas horas mais arrochada

Se fazia de dengoso

Dava logo na carreira

Escondendo precioso.

O seu terceiro marido

Encostado num espelho

Olhando seu grosso rosto

Que ficava bem vermelho

Um típico galo cego

Rápido feito coelho.

Aquele que foi primeiro

Metido ser cabra macho

Só queria vida boa

Feito água no riacho

Gostava de tapioca

Esquentadinha num tacho.

Ele de mulher gostava

Mas que não tinha critério

A feirante me falou

Cansou de ver adultério

Este bendito sujeito

Nunca levou nada sério.

Andava pra todo lado

Espichando feito touro

Nas horas do vem pra cá

Nunca que dava no couro

Quem tinha mais para dar

O seu papagaio louro.

Ela disse bem assim

Falando deste primeiro

Que foi muito valente

E nunca foi seu parceiro

No fundo se parecia

Bem pior que trapaceiro.

O vagabundo segundo

Tinha bastante preguiça

Nunca saía de casa

Um simplesmente carniça

Vivia de se mostrar

Comendo sal com linguiça.

A feirante foi dizendo:

Dar duro nunca daria

Que foi muito bacana

Numa grande padaria

Mas foi correndo depressa

Pra não se ver com Maria.

Um infiel Dom Juan

Este já é o terceiro

Nas mãos um simples espelho

Querendo ser forasteiro

Espiar a cabeleira

Ali mesmo no terreiro.

Este cabra tão vistoso

Nunca fez o seu ditado

Acordava sempre tarde

Querendo ser bem tratado

Só caminhava nos trinques

Mas nunca deu resultado.

Este de número quatro

Um ser humano tranquilo

Vai vencendo todo trio

Não perde nenhum cochilo

O seu coração bondoso

Vive pensando naquilo.

A mulher atualmente

Numa fértil harmonia

Sorrindo, também amando

Em profunda sinfonia

Dão risos pra todo povo

Tudo já virou mania.

Na grande banca de feira

O casal ali trabalha

Pesando mercadoria

Ela jamais atrapalha

Com muita paciência

Ele limpa toda palha.

Ela gosta desse quarto

Que lhe tem maior amor

O cara de sua vida

Disse sem nenhum pudor

Vai ter gente no casório

De pobre para doutor.

Uma mulher gente fina

Adora tudo que faz

Com sua fruta madura

Do lado do seu rapaz

Grande poço de bondade

Num gosto que satisfaz.

Vendendo com precisão

Naquela banca de feira

Ela grita pelos cantos

Isso é venda certeira

Laranja tem e não falta

Nem a manga de primeira.

A mulher sabe vender

E seu marido com ela

Atende com maestria

E gosta muito dela

Ele diz que tem tesão

E vive vidrado nela.

Ele é gente tão boa

Explêndida criatura

Sentado naquele banco

Tem gentileza, postura

No trato com a mulher

É amor que se mistura.

Eu nunca consigo ver

O porquê do casamento

Antes deste, teve três

E tome só sofrimento

Pois, vivendo com os outros

Era mesmo seu tormento.

Ela vende seu produto

Na maior simplicidade

O marido junto dela

Vive sua mocidade

Trabalhando com firmeza

Na sutil honestidade.

Esse tema se confunde

Não poderá ser normal

Ele também teve quatro

É número já formal

Ele não sabe tão bem

Se parou num hospital.

A terceira levou tudo

Quase lhe mata de susto

Ela fugiu pra longe

Lhe causando grande custo

Destas farras da danada

Seu viver não será justo.

Sigamos raciocínio

Nesta simples coincidência

Ele vivendo com ela

Faz tão bem com paciência

São coisas que vão surgindo

Pra mexer com a ciência.

Ele conta que sofreu

E nem lembra do retrato

Sabe que vive tão bem

E com ela fez um trato

Para viver bem feliz

Comendo no mesmo prato.

Ela fala nisso tudo

Com bastante segurança

Amores só valem, sim

Brincando feito criança

Deixar ele renascer

Numa gentil esperança.

Os dois numa só ideia

Falam de suas histórias

Em cada tempo se faz

Os momentos de memórias

Mas o casal anda firme

Caminhando nas vitórias.

Peço profunda licença

Pro mode chegar no fim

No traço da fantasia

Eu sempre digo que sim

O meu Cordel brasileiro

Exala feira pra mim.

BENTO JUNIOR
Enviado por BENTO JUNIOR em 11/04/2023
Reeditado em 11/04/2023
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