PELEJA SERTANEJA

Zé Ferreira foi um dos poucos amigos que tive na vida. Nos conhecemos no trabalho, eu como radiotelegrafista e ele como desenhista. Tínhamos algumas afinidades e foi isto que nos aproximou. Ele era reservado e esquisitão como eu. Por muitos anos participamos de um grupo de canto coral. Nas horas vagas inventamos de compor músicas. Foram muitas, ele era uma máquina de compor, mas estava mal assessorado, eu era muito ruim no violão. Chegou a gravar três CDs. Depois passou a escrever cordéis com biografias de santos, de Frei Damião, e até de Lampião. Eu o acompanhava de perto em suas aventuras. Até cheguei a escrever um cordel contando a sua história. Está publicado aqui na minha Escrivaninha, o link é https://www.recantodasletras.com.br/cordel/5052027. Nos afastamos quando vim residir em Natal, mas ele sempre me mandava suas publicações pelo correio.

Ontem, chafurdando em meus alfarrábios encontrei alguns de seus cordéis, e numa forma de homenagear aquele amigo que partiu primeiro deste plano, resolvi publicar aqui um deles, onde ele finge uma peleja com um cantador famoso do Nordeste.

PELEJA DE ZÉ FERREIRA COM PAULINHO DAS ESPINHARAS

Leitor você que aprecia

Contenda de cantador

Eis aqui uma peleja

Que assisti em Limoeiro

De dois grandes cantadores

Renomados trovadores

Desse torrão brasileiro.

Zé Ferreira é paraibano

Filho da nossa terra

Não é famoso na vida

Como Francisco Pereba

Mas debateu com Paulinho

Desses que atira e não erra.

Paulinho estava vestido

De traje muito chocante

Saudou a grande plateia

Com as meninas foi galante

Ferreira naquele dia

As roupas que vestia

Eram bastante elegantes.

Paulinho por sua vez

Feriu as cordas de aço

Zé Ferreira não desfez

Rindo não teve embaraço

Aí o povo aplaudiu

Ferreira por sua vez

Mostrou a força do braço.

ZF

Zé Ferreira quando canta

Seu verso é um colosso

Se o parceiro é fraco

Engole chumbo do grosso

Se tiver crime na certa

Vai parar no calabouço.

P. das Esp.

Você diz Paulinho é fraco

Mas se engana rapaz

Sou cantador de fama

Me vença se for capaz

Do contrário você tem

Que gritar pedindo paz

ZF

Você parece um bestão

Cria vindo lá das brenhas

Cantador como você

Eu malho com racha de lenha

Deixo cheio de hematomas

Pedindo socorro à Penha.

P. das Esp.

Sou Paulinho das Espinharas

Nunca temi valentão

Se perder para você

Mando amputar minha mão

Isso vai justificar

Fique certo cidadão.

ZF

Você prova que é tolo

Veja só que argumento

Teu raciocínio é fraco

Você pra mim é jumento

Paulinho vá se cuidando

Não faça vergonha a gente

P. das Esp.

Paulinho vem da escola

Cantador sou com orgulho

Minha voz é um trovão

Disso tudo sinto orgulho

Te aconselho corra logo

Para não virar entulho.

ZF

Sou poeta afamado

Meus versos não têm idade

Canto aqui e canto agora

Fica pra posteridade

Os que me escutam se admiram

Seja qual for a idade.

E esta lengalenga continua por algumas páginas. Eu quis apenas deixar uma amostra e prestar uma homenagem.

Jota Garcia
Enviado por Jota Garcia em 07/07/2023
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