No sangue que em ti circula / Corre um pedaço de mim

CORDEL – Mote de autoria do poeta Ansilgus: "No sangue que em ti circula / Corre um pedaço de mim"

Parceria com Ansilgus, Erivas Lucena, Zédio Alvarez, Jacó Filho e Fernando Belino.

Glosas do poeta Edmilton Torres

Eu te gerei com amor

E te criei com carinho

Hoje só me causas dor

Pois te tornaste mesquinho

Tua vida me encabula

E vai apressar meu fim

No sangue que em ti circula

Corre um pedaço de mim

Eu passei noites de sono

Quando estiveste doente

Hoje vivo no abandono

Pois, de mim, vives ausente

Essa omissão te macula

Como a ação de Caim

No sangue que em ti circula

Corre um pedaço de mim

O maior erro de um filho

É tratar com ingratidão

Quem lhe conduziu no trilho

De uma boa formação

A tua atitude anula

O que te ensinei, enfim

No sangue que em ti circula

Corre um pedaço de mim

Como pai, não fui perfeito

Mas, fui o melhor que pude

Não te passei preconceito

Nem te ensinei a ser rude

Minha vida se atribula

Quando tu ages assim

No sangue que em ti circula

Corre um pedaço de mim

Eu sempre te ensinei

A ter um bom coração

Mas, vejo que me enganei

Só sinto decepção

A minha intenção foi nula

És um martírio sem-fim

No sangue que em ti circula

Corre um pedaço de mim

O bom pai não cria um filho

Esperando recompensa

E nem quer ser empecilho

Para ele agir como pensa

Porém não se congratula

Com um caráter chinfrim

No sangue que em ti circula

Corre um pedaço de mim

Nenhum pai sente prazer

Em falar mal de um filho

Mas, não deve defender

Quando um deles perde o brilho

Com esse não confabula

Nem se abraça em festim

No sangue que em ti circula

Corre um pedaço de mim

Tu me matas de vergonha

Também na sociedade

Porque segregas peçonha

Com tanta sagacidade

Que a todos manipula

Com aura de querubim

No sangue que em ti circula

Corre um pedaço de mim

Eu nunca vou te odiar

Porque és meu filho amado

Mas, não posso elogiar

Um filho desnaturado

Que no mundo perambula

Em busca de trampolim

No sangue que em ti circula

Corre um pedaço de mim

Se um dia te arrependeres

Eu te estenderei a mão

Se da lama tu te ergueres

Eu te darei meu perdão

Essa chance me estimula

Viver em um frenesim (*)

No sangue que em ti circula

Vai um pedaço de mim

(*) O mesmo que frenesi.

Edmilton Torres

*******************************************************************

Glosas do poeta Ansilgus

Meu filho chegue pra cá

Converse com o seu pai

Diga-me como que está

Acabe esse vai não vai

Assim você se anula

Não o quero triste assim

No sangue que em ti circula

Corre um pedaço de mim

Já te falei tantas vezes

Cuidado com amizades

Principalmente burgueses

Esqueça de vaidades

Pois essa gente simula

Nunca tem tempo ruim

No sangue que em ti circula

Corre um pedaço de mim

Não relaxe nos estudos

Seja homem inteligente

Fuja logo dos sisudos

Pois são inconvenientes

Você é o meu caçula

Presente de Deus, enfim

No sangue que em ti circula

Corre um pedaço de mim

Escolha uma profissão

Que seja digna e pujante

Mostre-se um cidadão

Seguro e não claudicante

Lembre-se sou sua bula

Do princípio até o fim

No sangue que em ti circula

Corre um pedaço de mim

Só não queira ser jurista

Político, nem se fala

Ou talvez um pobre artista

Mas um professor em sala

Porque no mundo postula

Aprenda a dizer o sim

No sangue que em ti circula

Corre um pedaço de mim

Foi o erro de seu pai

Que podia ser poeta

Pessoa que nunca cai

Quem sabe, um bom atleta

Que muito ganha e especula

Mas só se tiver a fim

No sangue que em ti circula

Corre um pedaço de mim

Vem aí uma reforma

Mas na parte dos tributos

Vão encontrar uma norma

Para ajudar os corruptos

Que de logo já pulula

Quem vai gostar é Pequim

No sangue que em ti circula

Corre um pedaço de mim

Vão taxar mais o consumo

E o pobre já se fodeu

Vai perder todo seu prumo

Tem deles que já morreu

Sua vida se estrangula

Vai comer amendoim

No sangue que em ti circula

Corre um pedaço de mim

Depois vão entrar na renda

E taxar sem piedade

Uma mudança estupenda

Mais uma calamidade

É triste que o povo engula

Vai parar no botequim

No sangue que em ti circula

Corre um pedaço de mim

A reforma uma desgraça

Nunca se viu coisa igual

Salvem os pobres na raça

Isso é coisa natural

Logo, logo o rico pula

Goste ou não do seu Delfim

Uma parte que em ti circula

Sobra um pedaço de mim

Ansilgus

****************************************************

Glosas de Erivas Lucena

Resolvi cordelizar

Para atender um amigo

Outra vez vou me arriscar

Mesmo correndo perigo

Poesia é minha gula

Dela eu estou sempre afim

No sangue que em ti circula

Corre um pedaço de mim

O nobre bardo Gusmão

Sempre a me desafiar

É grande a minha tensão

Alma a descarrilar

Com minha rima esdrúxula

Rimo até em Mandarim

No sangue que em ti circula

Corre um pedaço de mim

O Mote é bem sugestivo

Por ser um tema romântico

Traz sempre um tom festivo

Mesmo sendo um amor quântico

Não vou ficar de firula

Canto meu verso chinfrim

No sangue que em ti circula

Corre um pedaço de mim.

Sou uma mulher madura

Do amor não abro mão.

Amor sem muita frescura

Que não traga decepção,

Que com poesia oscula,

Aja em mim como estopim.

No sangue que em ti circula

Corre um pedaço de mim

Me sinto como menina

Quando com ele estou.

O seu olhar me domina

Minha alma sequestrou

Me sinto até ridícula

E digo: és meu Arlequim

No sangue que em ti circula

Corre um pedaço de mim

Num ziguezaguear vem

Com sua voz sensual

Me chamando de neném

O chamo meu general

Ele sempre me bajula

Sorridente diz assim:

No sangue que em ti circula

Corre um pedaço de mim

E quando me fala assim

Fico toda derretida

Seu rosto roçando em mim

É droga que me dá vida.

O nosso amor é sem mácula

Tão puro como o jasmim

No sangue que em ti circula

Corre um pedaço de mim

Estilo Shakespeniano

Abdicar não nos apraz

Não deixa réstia de engano

Somos Rute e Boaz.

De ti sou uma partícula

Juro com amor carmim

No sangue que em ti circula

Corre um pedaço de mim

Amor pra mais de mil noites

Ultrapassa os hemisférios

Em Morfeu nossos pernoites

Em sonhos, voos e mistérios

Nem o olhar de Medusa

A esse amor porá fim

No sangue que em ti circula

Corre um pedaço de mim.

O homem para me amar

Tem que ter muito traquejo

Sem espinhos a espinhar

Na língua muito molejo.

Como licor de Amarula

Doce veneno, por fim...

No sangue que em ti circula

Corre um pedaço de mim.

Erivas Lucena

******************************************************************

Glosas do poeta Zédio Alvares

Sou um poeta romântico

Tinha uma paixão juvenil

Com todo apego tântrico

Num clima primaveril

Fiz dela minha Pitchula

Escolhi toda pra mim

No sangue que em ti circula

Corre um pedaço de mim

Começou lá no cinema

Numa filmagem de amor

Dei um beijo fora da cena

No rala e rola do calor

Ela filha de seu Marcula

Homem cheio do capim

No sangue que em ti circula

Corre um pedaço de mim

Uma menina prendada

Mostrava todo seu dote

Linda minha namorada

Numa visão do decote

Dengosa por ser caçula

Do seu corpo eu era a fim

No sangue que em ti circula

Corre um pedaço de mim

Com o ar da felicidade

Eu fiquei pensando nela

Fiz um quadro da beldade.

Pintei todo em aquarela

No brilho que se intitula

Com vestido de cetim

No sangue que em ti circula

Corre um pedaço de mim

Seu pai tinha uma fazenda

Fomos lá pra passear

Recebi a oferenda

Do querer e desejar

Lavei minha égua e a mula

Bem no pé de amendoim

No sangue que em ti circula

Corre um pedaço de mim

Não sou poeta de fugir

Encaro qualquer desafio

Tenho fome de faquir

Com Rosa me arrepio

Bebo veneno cicuta

É só ela fazer assim!

No sangue que em ti circula

Corre um pedaço de mim

No São João fomos lá

Dançar aquele forró

Rosinha vindo pra cá

No chamego do xodó

Na ousadia com firula

Teve começo sem fim

No sangue que em ti circula

Corre um pedaço de mim

As sombras era a guarida

Tinha aceite do coração

Rosinha pegou barriga

Com todo amor e tesão

Para aumentar nossa gula

Eu lhe dei um trancelim

No sangue que em ti circula

Corre um pedaço de mim

Eu com o meu jeito pacato

Fiz tanta estripulia

Acho que comi um sapo

Ela gostou da folia

Como contar pra Marcula?

Que ia vir um bruguelim

No sangue que em ti circula

Corre um pedaço de mim

Hoje moramos no mato

Vivemos na harmonia

Fazemos tudo num ato

Amamos todos os dias

Eu dengo e ela me bajula

Num gostoso frenesim

No sangue que em ti circula

Corre um pedaço de mim

Zédio Alvarez

************************************************************

Glosas do poeta Jacó Filho

A cada filho que vinha,

Enquanto eu agradecia,

Na minha mente eu tinha,

Um frase que eu dizia,

Meu filho ninguém calcula,

O que é ser feliz assim,

"No sangue que em ti circula,

Corre um pedaço de mim",

Essas graças recebidas

São de Deus as digitais,

Que postas em cada vida,

Dão um toque divinal,

Com leis que o céu postula,

Pra nossa raiz não ter fim,

"No sangue que em ti circula

Corre um pedaço de mim",

Não são meras semelhanças,

O que trazemos em nós,

É algo que nos alcança,

Nos olhos, feições e voz,

Quando a certa altura,

Eu pensei algo assim,

"No sangue que em ti circula

Corre um pedaço de mim",

Vem de nossos ancestrais,

O caráter e respeito,

E cada dia cresce mais,

Até sermos homens feitos...

Pra dizermos sem censura,

Que tal seiva de alecrim,

"No sangue que em ti circula –

Corre um pedaço de mim",

Nessa metáfora eu falo,

Sobre herança genética,

Que já na ponta dos galhos,

Falta algo da estética,

Nesse pouco que perdura,

Em nossos pontos afins,

"No sangue que em ti circula

Corre um pedaço de mim",

Pontos que mais parecem,

Reproduções dum artista,

Que ao nascer aparecem,

E quase saltam as vistas,

As semelhantes gravuras,

Que representamos sim,

"No sangue que em ti circula

Corre um pedaço de mim",

Deus não admite acasos,

Em suas obras divinas,

Por isso num mesmo vaso,

Vai pondo as nossas sinas

Mantendo a estrutura,

Tal se feita em marfim,

"No sangue que em ti circula

Corre um pedaço de mim",

Não se trata de capricho,

Sermos da mesma família,

A raça precisa disso,

Pra manter em harmonias,

Inda que não seja pura,

Como gostaria Darwin,

"No sangue que em ti circula

Corre um pedaço de mim",

Resumindo quem nós somos,

Nesse plano encarnado,

Estamos onde nos pomos,

E no céu foi acordado...

Pra manter nossa postura,

Tais os anões de jardim...

"No sangue que em ti circula

Corre um pedaço de mim",

Pra nossa felicidade,

Por anjos somos guiados,

Rumo à eternidade,

E lá por Deus esperados,

Como falam as escrituras,

E os toques dos clarins...

"No sangue que em ti circula

Corre um pedaço de mim"

Jacó Filho

*****************************************************************

Glosas do poeta Fernando Belino

Meu filho, presta atenção

Nas palavras do teu pai

ou terás complicação,

Do jeito que a coisa vai!

Tão teimoso feito mula,

Não podes seguir assim.

No sangue que em ti circula,

Corre um pedaço de mim!

Antes do teu nascimento,

Eu já estava pelo mundo,

Buscando, a todo momento,

Ter o saber mais profundo.

O início a gente calcula,

E a vida decide o fim.

No sangue que em ti circula,

Corre um pedaço de mim.

Não adianta rebeldia

E essa falta de respeito!

Nenhuma força desfia

Este laço tão perfeito!

Quem do próprio barco pula

Vai acender o estopim!

No sangue que em ti circula,

Corre um pedaço de mim.

Nada foi escolha minha,

Estava tudo bem traçado.

Desde sempre, o que convinha,

Para nós, foi arranjado.

E não existe escapula,

A vida foi sempre assim.

No sangue que em ti circula,

Corre um pedaço de mim.

Sei que queres liberdade,

Tua vida independente.

Um dia terás saudade,

Pois a despesa crescente,

Sem quitação, acumula.

Queres viver de capim?

No sangue que em ti circula,

Corre um pedaço de mim.

Um filho que reconhece

O valor que tem um lar,

Aos poucos, na vida cresce,

Vai descobrir seu lugar.

Mas, se a família acha nula,

Faz da vida um botequim.

No sangue que em ti circula,

Corre um pedaço de mim

Todos temos um destino,

Cada qual sua missão!

Há sempre um plano divino

Apontando a direção.

Com Deus, todo mal se anula;

Sem Ele, morre o jardim.

No sangue que em ti circula,

Corre um pedaço de mim.

Fernando Antônio Belino.

Edmilton Torres, Ansilgus, Zédio Alvrez, Jacó Filho e Fernando Antonio Belino e Erivas Lucena
Enviado por Edmilton Torres em 21/07/2023
Código do texto: T7842411
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2023. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.