O preço da corrupção

Foi um relampejo forte

Inté o dia escureceu

Trovoada assombrosa

Terra toda estremeceu

Uma rajada de vento

Que pensei por um momento

Restar no mundo só eu

Baraúna veio a baixo

Algaróba se deitou

Anjirco e gabiroba

Pela cêpa arrancou

Jatobá e sucupira

Por riba da macambira

Pelo chão se espatifou

Vi minha casa voando

Parecia de papel

Vi uma banda da terra

Desmanchar feito pastel

Um raio secou o riacho

Incêndio de morro abaixo

Fez o maior escarcéu

Em meio ao vendaval

Ouvi um grito esquisito

Era uma locomotiva

Pude ouvir inté o apito

Mas aqui não passa trem

Nem trilho se vê também

Comecei ficar aflito

Deu-me uma tremedeira

A perna mudou de lado

Os quartos endureceram

O corpo todo entrevado

Eu nem se quer me mexia

Nenhum membro se bulia

Quando vi tava mijado

Facho de fogo caindo

Bem ali na minha frente

As labaredas subiram

E se apagaram de repente

Quando senti um estalo

Sacudido num abalo

Retornei ao consciente

Arregalei os meus olhos

Pra todo canto olhando

Igual pano de cuscuz

"Cumpadi" eu tava suando

Eu não sei dizer ao certo

Mas o que tinha por perto

Foi tudo desmoronando

Rezei dez ave Marias

Chamei tudo quanto é santo

Expedito, Benedito

Pra acalmar o meu espanto

Nenhum deles me ouvia

Chamei por Santa Luzia

Mas me deixaram de canto

Numa visão de cinema

Revi o filme da vida

E tudo que eu tinha feito

Na minha sina cumprida

Aos poucos fui entendendo

O que estava acontecendo

Eram cobranças da lida

Eu vi tanta coisa errada

Que no passado pratiquei

Quanta gente inocente

Por ganancia enganei

Tanta donzela bobinha

Crendo nesta lábia minha

Sua inocência estraguei

Cheguei a dar surra em doido

Uns tabefes num ceguinho

Dei pancada em sacristão

Esfolei aleijadinho

Dei até murro num padre

Que se juntou ao meu compadre

Dando uma de santinho

Um dia eles me viram

Saindo de um cabaré

E foram logo avisar

A minha santa mulé

Naquele dia amigo

Digo sem temer castigo

Abandonei minha fé

Ateei fogo na roça

De compadre Damião

Embuchei minha comadre

Que era sua mulher então

Arruinei o coitado

Tomei mulher, terra e gado.

Inda mandei pra prisão

Fui politico safado

Desonesto trambiqueiro

Comecei roubar a todos

Quando ainda tesoureiro

Da prefeitura local

Na minha cidade natal

Passava a mão no dinheiro

Lancei-me vereador

Depois prefeito também

Confiavam e votavam

E de mim falavam bem

Quem assim desconfiava

Da cidade eu expulsava

Sem perdoar a ninguém

Fui Deputado, Senador.

Corrompia todo mundo

Em volta de mim havia

Puxa saco e vagabundo

Um monte de pau mandado

Capacho teleguiado

Corja de porco imundo

Botei membros da família

Até quem não conhecia

Nas minhas repartições

Só parente me servia

Viagens pra todo lado

Mas pro meu eleitorado

Em nada eu lhes servia

Comprava advogados

Juízes e Delegados

Promotores, auditores

Fiscais e subordinados

Conchavos com muita gente

Ministros de Presidente

Governadores de Estados

Nas licitações fazia

Acordos com empreiteira

E nas planilhas de custos

Não cometia besteira

Antes de abrir a proposta

Eu já dava a resposta

De quem venceu de primeira

Tudo superfaturado

Rolava muita propina

Comprei casas em Miami

Espanha, França, Argentina.

Uma mansão em Portugal

Metade do Senegal

Tentei vender para a China

No Brasil eu nem contava

Patrimônio que possuía

Metade do Acre era minha

E quase toda a Bahia

O povo pagava tudo

Cabisbaixo, quieto e mudo.

Inda de pé me aplaudia

Comprei gado e fazenda

Botei em nomes diferentes

No Tal Ministério Publico

Só tinha incompetente

Empreguei quem eu queria

A Câmara então fazia

O que eu queria somente

A tal suplementação

Engordava vereadores

Eu até que atrasava

Salario de professores

Estes sim os baderneiros

Agitadores Brasileiros

Que só nos causam horrores

Pra que ensinar o povo?

Tem que ser alienados

Não conhecer a politica

Serem só interessados

A um salario mesquinho

Uma vaga um empreguinho

E viram nossos aliados

Peguei verba pra fazer ponte

Onde rio nunca passou

Asfaltei todas as estradas

Ninguém lá fiscalizou

E as contas com a união

Através da corrupção

Tudo, tudo se aprovou.

Aquelas coisas que eu via

Em meio ao vendaval

Vieram pra me mostrar

Como eu agi tão mal

Um raio bem grande veio

Rachou meu corpo ao meio

Vi meu próprio funeral

Via o rosto dos pobres

Em meio à rica multidão

Implorando um emprego

Uma melhor habitação

E aquela politicada

Como eu, não fazia nada.

Pra melhorar a situação

Aceitei o meu castigo

Não merecia perdão

Tudo que na vida fiz

Nada fiz por meu irmão

Minha vista escureceu

Vi quando meu corpo morreu

Sem alcançar salvação

Quando o Homem se afasta

De Deus nosso Criador

Comete os piores crimes

Sem dar o menor valor

Dinheiro nunca foi tudo

Por isso eu não me iludo

Com o que é dos outro Doutor

C ada ser humano tem

A chance para aprender

R evistar seus a fazeres

L utar com bom proceder

O uvir sempre a voz Divina

S empre do mal se abster

S omente quem teme a Deus

I gnora a ambição

L uta com dignidade

V aloriza a irmandade

A juda sempre um irmão

“O Homem sonha monumentos, e só ruína semeia”.

Poeta - Paulo Eiró.

CARLOS SILVA POETA CANTADOR
Enviado por CARLOS SILVA POETA CANTADOR em 11/09/2023
Reeditado em 17/09/2023
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