LINGUAJAR
Resolvi fazer visita
Em um povoado qualquer
Da cidade onde moro
Não podia ir a pé
Fui rumo ao Bom Viver
De ônibus, com muita fé
Deparei-me com pessoas
De caboclo linguajar
Observando os seus gestos
Comecei a registrar
A riqueza que existia
Naquele simples falar
Com certeza era assim
Que a minha vovó vivia
Com uma brejeira na boca
E um conversê todo dia
Trabalhando lá na roça
Vida dura ela sofria
Caminhando mais uns passos
Vi senhoras a assuntar
Uma chupava uma manga
A outra a marmanhar
Motivo de muita zanga
Pequena, é melhor plantar
Eu fui me aproximando
Perguntei: -Posso sentar?
Ela disse engasgada
Moça, pode arrodear
Segure este banquinho
Que eu vou lhe basugar
A vida aqui é tranquila?
Perguntei para a senhora
Confirmou com a cabeça
E eu comecei fazer hora
Até que ela me disse
Paz existe até agora
Depois, ela relatou
Que acontece confusão
O Pedrinho da quitanda
É metido a brigão
Se ninguém der trela a ele
Todos vivem em união
Como qualquer vizinhança
Não se livra de fofoca
Dona Maria falou
Da filha de dona Doca
Dizendo não existir
Mulher que fosse mais porca
Passou a falar de Jorge
O garanhão do lugar
Disse que muitas mulheres
Ele já fez deflorar
Deixando algumas buchudas
Com seus filhos pra criar
Lembrei-me da minha avó
Que tal expressão dizia:
- Fogo e palha perto pegam
Mulher que não se vigia
Não dá respeito a seu corpo
Com um tempo vai dar cria
Vai criando um a um
Na luta, dia após dia
Com uma renca de filhos
Que nem ela conhecia
Sem ter dinheiro no bolso
A metade não comia
Precisava de mais tempo
Para poder resgatar
Mais expressões e falares
Daquele simples lugar
Pois o tempo me foi pouco
Tinha hora pra voltar
Com essa pequena visita
Que não pude estender
Pois já estava tão tarde
Então pude perceber
Que muita riqueza havia
No povoado Bom Viver
Cléa Simone Oliveira Soeiro
Obs: O povoado Bom Viver pertence ao município de Pinheiro, no Estado do Maranhão.