A LENDA DA BOTIJA DO TOTORÓ
Querido amigo leitor
Nestas linhas vou trazer
Uma história interessante
Que jamais vais esquecer.
É na terra potiguar
O Seridó é o lugar
Desse conto que vais ler.
O estado desta história
É meu Rio Grande do Norte.
Vamos lá pro interior
Onde o sertanejo é forte.
É o lugar onde nasci
E o povo que vive aqui
São todos de muita sorte.
A cidade Currais Novos
É o palco dessa lenda,
E pra compor esses versos
Abriremos uma senda
De toda a sua história
Pra trazer dessa memória
O que nunca se desvenda.
Herança que carregamos
Através das gerações.
Nesses versos de cordel
Deixo contribuições
Para que a posteridade
Conheçam de verdade
Nossas belas tradições.
Para contar essa história
Voltar no tempo é preciso
Pra conhecermos melhor
Não poderei ser conciso.
Pois, tudo que vou contar
É o relato popular
E não fruto de improviso.
Vindo lá de Pernambuco,
Igarassu é a cidade.
Cipriano e sua esposa
Com muita seriedade
Chegaram ao Seridó
O lugar é o Totoró
Lugar de felicidade.
Sua origem é indígena
E Totoró quer dizer...
É um “lugar que tem água”.
Terra linda de viver
Muito bom pra criar gado
Cipriano já ligado
Quis as terras requerer.
De Fazenda Bela vista
Cipriano batizou.
Uns currais de pau-a-pique
Ali ele demarcou.
O comércio começava
O gado se destacava
Seu bolso foi quem lucrou.
O coronel Cipriano
Faleceu anos depois,
O seu filho primogênito
Foi quem assumiu os bois.
Patente de capitão
Chamado de Mor Galvão
Mesmo nome tinha os dois.
Reformou os currais velhos
Ficou mais estruturada
E agora com currais novos
Estava movimentada.
Tendo agora seu renome
Sendo assim com esse nome
Que ela foi registrada.
Mas o que é que tem a ver
A lenda com essa história?
Tem tudo e mais um pouco
Porque é introdutória,
Pois, agora é que começa
E antes que alguém me impeça
Vou seguir a trajetória.
Depois do falecimento
Desse grande Coronel
Sua esposa Adriana
Fez andar o carrossel
E casou-se novamente
Seguindo a vida em frente
Com nova lua-de-mel.
O Doutor Felix Gomes
Dalí rico Fazendeiro
Que tinha grande fortuna.
Se ouvia um converseiro
De que ele era avarento
Por riqueza um sedento
Que escondia o seu dinheiro.
Homem tão ganancioso
Foi capaz de colocar
Tudo de valor que tinha
Pra herança não deixar,
Num caixote de madeira
Trancado de tal maneira
Para ninguém encontrar.
Nós chamamos de botija
Todo cofre improvisado,
Ouro, prata ou dinheiro
Dentro dele é colocado
Tudo o quanto é de valor
Vai pro seu interior
Pra depois ser enterrado.
Assim fez o Doutor Felix
Guardando a sua riqueza.
Ele chamou dois escravos
Na maior delicadeza,
Escravos de confiança
Pra levarem a herança
E esconderem com destreza.
Então no “frião” da noite
Eles foram com destino
Ao pico do Totoró.
E que agora eu o defino
Num formato de vulcão
Imagina meu irmão
O tamanho do inclino!
Os coitados dos escravos
Com o caixote pesado,
Subiram até o topo
Com Felix logo ao lado
Chegando lá procuraram
E uma loca funda acharam
Pra que lá fosse jogado.
Jogaram toda riqueza
Mas, Felix não contente
Não queria correr riscos
Foi então rapidamente
Pegando despercebidos
Os escravos escolhidos
Empurrando-os friamente.
Dando fim as testemunhas,
Mais tranquilo ele ficou.
Com a riqueza segura
Sua vida retomou.
E onde a botija estava
O segredo ele guardava
E para o túmulo levou.
E como é que essa história
Tu teve conhecimento,
Se o segredo foi pro túmulo?
Calma que tenho argumento!
Pois, tinha gente sonhando
Com o Felix mostrando
O caixote suculento.
Então na comunidade
O sonho era o assunto.
Tinha regras a seguir
Que formava um conjunto
Ir ao pico, à meia-noite
Sem ter medo do pernoite
Muito menos de defunto.
Mas, também precisaria
De uma coisa importante
Dois amigos seu levar
Era significante
Pra desvendar o mistério
Assim tinha esse critério
Para sair triunfante.
Os escravos falecidos
A botija não deixaram
Eles tomam conta dela
E nos sonhos já avisaram
Quem quiser ter a herança
Dois amigos na balança
Eles já enfatizaram.
Dois amigos são precisos
Pra fazer o sacrifício
É preciso empurrá-los
Na loca do precipício
Só assim para os escravos
Fazerem os desagravos
E lhe dar o benefício.
É preciso ter coragem
E pedir para sonhar
Com o dono da botija
Para ele lhe mostrar
Onde está localizada.
Mais difícil da jornada
É os amigos empurrar.
Acredito que é por isso
Que ninguém nunca achou
Essa herança escondida
Que sequer um filho herdou.
Pois é grande a gravidade
Foge da moralidade
Eu mesmo é que nunca vou.
E durante muito tempo
Evitaram de subir
No pico do Totoró
Com o medo de sumir
Porque tendo alma penada
Povo sai em disparada
O pensamento é só fugir.
Desde o século dezoito
Que essa lenda permanece
Viva em nossas tradições
Cada vez se fortalece
Se ela é mito ou verdade
Tem que ter seriedade
E ir lá ver o que acontece.
Será mesmo que a ganância
Vale mais que uma amizade?
Será mesmo que ouro compra
Mesmo a sua liberdade?
Como a sua consciência
Trataria a imprudência
Resultante da maldade?
E estes questionamentos
Servem de reflexão
Cabe a cada um de nós
Sabermos se é certo ou não.
O caminho que escolhemos
Qualquer deles aprendemos
Com certeza uma lição.
Essa lenda da botija
Já mexeu com muita gente
Já vi grupos que acampam
E procuram no ambiente
Do pico do Totoró
Que seja uma prova só
Da botija realmente.
Alguns dizem que está lá
Outros que nem acredita,
Mas a lenda perpetua
Oralmente ou escrita.
Aqui trago nos meus versos
Os relatos mais diversos
Que uma história necessita.
Então deixo registrado
Para vocês essa lenda
Que possam abrir os olhos
E que realmente aprenda
O valor de uma amizade
Vai além da vaidade.
Da ganância se desprenda.
Essa lenda que contei
Desse belo povoado
Onde surgiu Currais Novos
É só uma de um bocado.
Mas não quero me alongar
Por isso que eu vou deixar
Para um outro versejado.
Com esse verso termino
Essa lenda aqui contada
Pesquisada com carinho
Trazida bem afinada.
Mas, agora é com você
Pense no que vai fazer
Se ela em sonho for mostrada!
Leidson Macedo Felix
(Capitão Jack)