Lembrança da Retirada

Eu nasci na terra bruta

Lá nas bandas do sertão

Vi o sol secar lavoura

Queimar toda plantação,

E o matuto se arribar

Pra longe do seu Rincão!

Nos meus contos de verão,

Nossos rios por lá secava

Não tinha peixe para pescar

Nem passarinho que avoava,

Alimento era repartido

Na região q'eu morava.

Duas tragedias se contava,

Na lida do fazendeiro

O castigo do verão

E enchente em janeiro,

Trovoadas e relâmpagos

Transborda açudes primeiro!

É como navio negreiro

Roda terra, balança mar

É assim a vida sertaneja

O Olimpo mudou-se p'ra cá,

Ralampagos nas Baraúnas,

Arrepia o pescoço ao cacanhar!

Os rios dão varzantes por lá,

O povo diz: - chuva abençoa,

Nossa gente sofrida,

E o grito de saudação ecoa,

Borboletas no campo verde

Sertão esmeralda a lagoa!

O vaqueiro um aboio entoa,

Aos santos agradecendo,

Mas a chuva passageira,

Logo vem o sol ardendo

A brisa vem mareando,

Um crisma no ar, noiz vendo!

E vamos a vida colhendo,

No sertão que já foi mar,

Me valha o pé de serra,

No lagedo há água a jorrar,

Se torra o chão, rezo aos meus,

Não percamos a fé em Deus,

Ser forte é acreditar!

bel Salviano Planeta Poeta
Enviado por bel Salviano Planeta Poeta em 07/12/2023
Código do texto: T7948889
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