TRATO COM A MORTE Francisco Luiz Mendes

TRATO COM A MORTE

Francisco Luiz Mendes

Naquela cidadezinha,

Alto sertão nordestino,

Um pacato cidadão,

Por nome, João Sulino,

Vivia de bar em bar,

Desafiando o destino.

Sujeito respeitador,

Mantinha boa amizade,

Ninguém tinha queixa dele,

Ali naquela cidade.

Era cabra divertido

Naquela sociedade.

Era moço boa praça,

Um jovem labutador,

Apreciava forró,

Era fino dançador,

De certo, modo e tal,

Até galanteador.

Todo final de semana

O moço, João Sulino,

Frequentava com prazer

O bailão de Zé Rufino.

Clube do qual era fã,

Desde os tempos de menino.

Porém, ninguém entendia,

Certa atitude sua.

Ficava perambulando

A noite inteira na rua

E tendo por companhia

Exclusivamente a Lua.

A sua própria família,

Nada sabia explicar,

Qual o motivo e a razão

Dele assim se comportar.

De uma hora para outra

Tão de repente mudar.

Para quem o conhecia

Difícil de acreditar

Em vê-lo acima e abaixo,

Na cidade vaguear.

Um dia sim, dia não,

Lá estava ele a zanzar.

Esse jovem tão distinto

Amante da liberdade

Era um enigma, enfim,

Naquela sua cidade.

Os amigos indagavam

Sua contrariedade.

O moço, João Sulino

Em uma mesa de bar.

Exclusivamente só

Sem ter nada a degustar

Quando de repente viu

Junto dele alguém chegar.

Aquela pessoa, enfim,

E muito educadamente.

Pediu-lhe sua licença

Para à mesa estar presente.

E sem ter qualquer receio

Concordou, sim, evidente.

Logo, pois, se apresentou

Chamo-me, João Sulino.

Eu, sou deste povoado

Vivo aqui desde menino.

Aliás, aqui nasci,

Aqui também me arruino.

O jovem, João Sulino

Queria desabafar.

Aquele sujeito ali,

Atento a lhe escutar,

Deixou-lhe, pois, à vontade

Nada sequer a indagar.

E João, continuava

Com a sua ladainha.

Dizia: __ Não sou letrado,

Aprendi alguma linha,

Para mim foi o bastante,

Pra levar minha vidinha.

Por fim, para dar errado,

Comigo, tem tudo a ver.

O destino me ensinou

Como eu devia viver,

E tantas vezes na vida,

Também tive que ceder.

Algum amigo de infância,

Pela vida, bem se deu,

Mas outros, nem tanto assim.

Digo, alguém não mereceu,

Só reclamando do mundo,

Não sabe o que aconteceu.

João Sulino, adorava

Comentar a sua vida.

Com amigos do seu meio

Ou gente desconhecida,

Se dizia descontente,

Um tanto com sua lida.

Ele às vezes desejava

A morte vir lhe buscar.

Dizia: __ Já me cansei!

Pela vida labutar,

Se nada tenho de bens,

Na Terra, pra que ficar?

Cuidado que o seu pedido

Pode se realizar!

Os seus amigos diziam:

__ É melhor não provocar,

A morte a qualquer momento,

Pode vir pra lhe levar.

João Sulino, até ria.

__ Pois que eu seja levado!

Se pedido algo valer,

Que o meu seja efetivado.

Se a palavra tem poder,

Que eu, seja logo velado!

Zé Rufino, lhe alertou

Dizendo-lhe bem assim:

__ Você não sabe o que diz!

Palavra tem poder sim.

Para fazer o que é bom

Ou fazer o que é ruim.

Mas o que me diz você?

João Sulino, indagou

O figurante da mesa,

Bem nos seus olhos fitou:

__ Eu, lhe fiz uma pergunta,

Você não me respostou.

Ele assim lhe respondeu:

__ Não tenho nada a dizer.

Estou gostando da prosa,

Aliás, me dá prazer.

A conversa é apreciável,

Logo pude perceber.

Ele ainda disse mais:

__ Meu caro, João Sulino,

Você é bem brincalhão,

É assim que lhe defino,

Muita falta vai fazer

Neste Agreste nordestino.

João Sulino, ficou

Um tanto bem assustado.

Disse assim pro figurante:

Você estava tão calado!

Por fim, resolveu falar,

Deixando-me encabulado.

Mas por qual motivo, então,

Preocupado ficar?

Vamos lembrar lá atrás,

Vivia a morte chamar,

Pois eu sou a tal meu caro.

Enfim, vamos conversar.

Respondeu João Sulino:

__ É verdade, nego não!

Mas tudo que eu falava,

Nada era de coração.

Era da boca pra fora,

E não passou dum bordão.

__ Um amigo lhe alertara,

A morte, então debochou.

E vem com essa desculpa,

Antes, por que não pensou?

Agora é tarde demais

Pra revogar, já falou!

Dia treze, sexta-feira,

Deste mês, ano corrente.

Eu venho aqui lhe buscar,

Nesta data tão somente

E se despediu dizendo:

__ Meu caro, até brevemente!

O moço, João Sulino

Enfim, se pôs a pensar:

__ É ruim, hein, minha gente,

A morte quer me levar!

Eu, vou dar é um jeitinho,

Dela aqui não me achar.

E a partir do tal momento,

Ele era outra pessoa.

O seu estilo de vida,

Assim, soava de boa,

O jovem, João Sulino

Vivia e sorria à toa.

A alta sociedade

Passou logo a frequentar.

E pensou: __ A morte aqui,

Não virá me procurar.

Pois quando me conheceu,

Eu, vivia a mendigar.

O rapaz, João Sulino

Na classe baixa vivia.

Mas disfarçado de rico,

Pomposo se exibia,

Não se sabe o que ele fez

Pra bancar tal mordomia.

Naquela data prevista,

A morte ali chegou,

Logo, imediatamente,

Por ele, ela procurou,

Rua acima, rua abaixo,

Sequer dele rastro achou.

Perguntando para outros,

Ninguém dava informação.

E falava do caráter

Desse jovem cidadão,

Mas nada do paradeiro

Do atrevido rapagão.

Disse a morte bem assim:

__ Mas será o Benedito?

Faz três dias que eu estou

Caçando esse rapazito,

Até a presente data,

Nenhum sinal do cãozito.

Preciso é me concentrar

Mais nessa minha caçada!

A morte, pois, se queixou,

Sentindo-se já cansada.

Não tinha mais energia

Para seguir a jornada.

Depois de um bom repouso,

Pronta estava novamente.

Disposta para encontrar

João Sulino, evidente.

Para levá-lo consigo

Pro seu mundo finalmente.

Numa boate grã-fina,

Ela por ali chegou.

Bem vistoso, numa mesa,

Tal pessoa observou.

E como quem não quer nada,

Dela, pois, se aproximou.

__ Boa noite caro amigo!

Aqui posso me sentar?

__ Fique à vontade meu caro!

Claro, vamos prosear.

Percebi, não é daqui.

Em que posso lhe ajudar?

__ Verdade não sou daqui.

Estou passando em missão.

Vim para cumprir um trato

Com um certo cidadão,

Porém, tenho o procurado,

Ninguém sabe dele não!

__ Você sabe o nome dele?

E diga-me, por favor.

Eu, posso até conhecer

O tal infeliz senhor,

Como eu sou deste lugar

Sei quem aqui tem valor.

__ Eu, conheci esse moço,

Por nome, João Sulino.

Passou-me boa impressão

Esse jovem figurino,

Foi ele quem me atraiu

Cá pro Agreste nordestino.

E você sabe quem é,

Pelo o nome que citei?

__ Eu queria lhe ajudar,

Porém, afinal, não sei.

Nunca o vi por essas bandas.

Perdão, se esperança, dei!

Mas que não se preocupe,

Eu com você, nessa estou.

O moço, João Sulino

Assim mesmo lhe falou:

__ Eu, tenho aqui meus contatos

Deixar-lhe na mão não vou.

__ Afinal, quem é você?

João Sulino, indagou:

__ Até o presente momento

O seu nome não falou.

A morte lhe respondeu:

__ Por que quer saber quem sou?

Eu, sou a temida morte

Aqui estou em missão.

Eu, vim buscar um rapaz

Daqui dessa região,

Mas ele foge de mim,

Como a presa, dum leão.

__ A morte ainda disse:

Mas não é problema, não.

Vou fazer mais uma busca

Para achar esse fujão

Se acaso não o encontrar,

Aí é outra questão.

__ Afinal, quem é você?

__Oh, meu caro bom amigo!

A pessoa que procuro

É parecida contigo.

Já que não a encontrei,

Vou levar você comigo!

Fim.

Francisco Luiz Mendes
Enviado por Francisco Luiz Mendes em 07/03/2024
Código do texto: T8014562
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