As doideiras de Zé Doidim
me lembro perfeitamente
da Escola Silva Jardim
onde tinha um moleque
chamado de Zé Doidim
era um garoto capeta
que vivia arrumando treita
e jogando a culpa em mim
ele um dia entrou na igreja
bem na hora do sermão
e chamou o padre de corno
só por pura diversão
o vigário bem irritado
disse que tinha um diabo
lhe fazendo tentação
fez quatro sinais-da-cruz
pra melhor se proteger
e deu ordem a Zé Doidim
pra dali se escafeder
o moleque não gostou
e tão logo retrucou
dizendo: vai se.......
voltando pra nossa escola
onde o “bicho” ali pegava
não vou dizer outra coisa
senão a história passada
foi soco pra todo lado
o maior arranca-rabo
por causa d’ua namorada.
o safado do Zé Doidim
era mesmo atrapalhão
passava a mão nas meninas
só pra arrumar confusão
e quando u’a briga arrumava
bem depressa escapava
deixando todos na mão.
me lembro de uma menina
chamada de Juliana
que se achava a boazuda e
certamente a mais bacana
foi ela a causadora
de uma rixa duradoura
por ser muito gostozona
certo dia essa menina
começou uma choradeira
era um choro bem nojento
que alarmou a escola inteira
e o Zé Doidim, atrevido,
foi consola-la no ouvido
sentado na sua carteira.
a coitada da menina
não parava de berrar
foi então que Zé Doidim
foi depressa acalentar
aproveitou o momento
e sem ter constrangimento
começou a lhe apalpar
mão aqui e mão acolá
foi Zé Doidim esfregando
e Juliana em prantos
foi logo se esquivando
mas a coisa perigou;
um soco ela acertou
e ele caiu se estatelando
o namoradinho dela
que se chamava Romeu
quando viu aquela cena
logo se enfureceu
ficou todo avermelhado,
de olhar arregalado,
e ai o pau comeu
o Romeu partiu pra cima
querendo mesmo brigar
parecia um leão faminto
maluco para matar
foi um corre-corre danado
o maior arranca-rabo
um pega aqui, pega acolá.
Zé Doidim tomou u’a surra
como nunca esperava
e a menina Juliana
que há pouco tempo chorava
dava pulo de alegria
dizendo que agora via
a vitória de quem amava
quase ninguém sabia
daquele namoro escondido
se a turma fica sabendo
o Romeu estava perdido
pois o pai de Juliana
era uma fera insana,
um perigoso bandido
foi então que Zé Doidim
encontrou uma solução
pensou direito na vida
pra tomar uma decisão
- vou avisar ao pai dela
disse com toda cautela
e foi procurar seu Tonhão
o Tonhão depois que soube
que a filha namorava
jurou dar uma surra
na pessoa que mais amava
e ainda prometeu:
vou dar o maior cacete
quando eu encontrar o Romeu
Zé Doidim voltou feliz
radiante de alegria
e disse pra todo mundo
que esperança agora via:
de ver o Romeu caído,
quebrado, todo moído;
pra vingar aquele dia.
o Romeu ficou sabendo
do grande alcagüete
e avisou pro Zé Doidim:
- vou te dar outro cacete;
pra você nunca esquecer
e de uma vez logo saber
que comigo não tem macete.
Zé Doidim tomou outra surra
bem pior que a primeira
e nunca mais ele apalpou
as menininhas na traseira
ficou um homem direito:
de pudor e de respeito,
e pôs fim na brincadeira.
A turma ficou contente
com aquele final feliz
pois ninguém mais suportava
tanto sangue de nariz
e Romeu com a Juliana
foi a coisa mais bacana
foi isso que o amor quis
S.Paulo, dez/2005