SALGUEIRENSE ADOTIVO

SALGUEIRENSE ADOTIVO

Maurilio Sampaio Carvalho

Salgueiro, 01/06/2007.

Eu nasci no pé da serra,

Do meu pai, do Gonzagão,

Poeta e cantor da terra,

Deles só recordação,

Mas o destino certeiro,

Mandou-me para Salgueiro,

E aqui estou de coração.

O seu povo hospitaleiro,

Adotou-me como irmão,

Isso é dom do Brasileiro,

Que habita o sertão,

Vivo feliz e contente,

Por ter uma nova gente,

Morando em meu coração.

Quando cheguei com a família,

Assim meio desconfiado,

Trazendo como mobília,

Um saco com um nó bem dado,

Hoje pra mim tudo é festa,

Doze netos e uma bisneta,

Todos no peito trancado.

A cidade era pequena,

Mas muito desenvolvida,

Lembro-me com muita pena,

Das fábricas lhe dando vida,

O curtume exportava,

Pra outros mundos mandava,

Sola e vaqueta curtida.

Tinha uma loja bem sortida,

Do Coronel Veremundo,

Nela estava bem contida,

Produtos do outro mundo,

De tudo tinha um magote,

Foice, tecido, serrote,

Se brincar saco sem fundo.

Tinha a casa de farinha,

Pra juventude dançar,

O cabaré de Bichinha,

Que o nome não vou falar,

Era só tranqüilidade,

Ainda sinto saudade,

E vontade de chorar.

Tinha o trio Talismã,

Com Ailton Souza cantando,

Toda a cidade no afã,

De ver o trio passando,

E eu lá no bar de Fia,

Tomando cerveja fria,

E olhando o povo dançando.

E a fábrica de macarrão,

Que ficava na avenida!

Botaram num caminhão,

Foi triste sua despedida,

Ela foi e não voltou mais,

Disso não esqueço jamais,

Só a alma triste, sentida.

Quem não lembra da Uniauto,

De Dogival e Risomar?

Lá se comprava um auto,

Sem sair desse lugar,

Hoje pareço um patife,

Tenho que ir ao Recife,

Pra um carro novo comprar.

Todos guardam na memória,

O nosso Panta Leão,

Grande contador de história,

Da mentira o campeão,

Mentia pra divertir,

Para o povo não sentir,

As agruras do sertão.

Onde fica o Plaza Hotel,

Era a pegada de gado,

Geraldo no seu corcel,

Por todos admirado,

Hoje a cidade cresceu,

Tudo desapareceu,

Só lembrança do passado.

Tinha a fábrica de sabão,

De foguetão, de biscoito,

Até linha de avião,

Pra o matuto mais afoito,

Tinha o café altaneiro,

Fechada em pleno janeiro,

Perto do dia dezoito.

Hoje só resta o chalé,

Do coronel Veremundo,

Causando encanto até,

Ao povo do outro mundo,

É uma obra singular,

De beleza exemplar,

Feita com gosto profundo.

Tinha fábrica de calçado,

Da mais alta qualidade,

Mas faz parte do passado,

As indústrias da cidade,

O óleo que se usava,

Que a nossa carne fritava,

Dele só o gosto e a saudade.

Televisão, nem pensar!

Rádio, se ouvia ruim!

Notícia para chegar,

Demorava mesmo assim,

Mas o povo era feliz,

Ninguém vivia infeliz,

Quem me afirmou foi Sazim.

A rádio de antigamente,

Era a rádio Miramar,

Olimpio animava a gente,

Botando música no ar,

Era uma rádio caseira,

De Salgueiro a pioneira,

Já falava sem chiar.

Os mais velhos não esquecem,

Do caneco amassado,

Mas hoje todos padecem,

Pelo tempo mal usado,

Ainda bem, nunca fui lá,

O meu tempo é bem pra cá,

Estou livre desse pecado.

Quem queria se livrar,

Do imposto estadual,

Tinha que se desviar,

Do velho posto fiscal,

Quem recorda ainda guarda,

O nome do Pau do Guarda,

Que a muitos fazia mal.

Quem não lembra Gumercino,

O pai do Dr. Romão?

Um homem de trato fino,

E de grande coração,

Ele e Severino Sá,

Deixaram nesse lugar,

Só obra e recordação.

Quem esqueceu da vendinha,

Do nosso Antonio Dedé,

Onde vendia sardinha,

Goiabada e picolé,

Aos poucos foi aumentando,

Muito dinheiro juntando,

Mesmo assim andando a pé.

Mestre Jaime bem mocinho,

Com seu sax afinado,

Nas janelas bem baixinho,

Tocando bem animado,

E eu de longe a escutar,

Em plena luz do luar,

No meu cantinho calado.

A cadeia era pequena,

Porque não tinha freguês,

O juiz pra dá uma pena,

Tinha que esperar a vez,

O povo era bondoso,

Muito honesto, caridoso,

Possuía sensatez.

Outra coisa que acabaram,

Foi o cinema de Isnar,

Parece que se abusaram,

De ver a sirene tocar,

Os casais abufelados,

Uns nos outros agarrados,

Tela que é bom, nem olhar!

Quem não lembra Damião,

Peba do carro de som?

É de cortar coração,

Aquele tempo tão bom.

Era um tempo bom demais

Que não volta nunca mais,

Na lembrança só o tom.

Mas minha terra querida,

Vou amá-la até morrer,

Quero em minha despedida,

Ser bem lento e não correr,

Não fazer como o curtume,

Pra não se tornar um costume,

Quero é sim te ver crescer.

Como as coisas do destino,

Tem no meio a mão de Deus,

Suas obras no escuro assino,

São divinos os atos seus,

Peço ao Pai com muito amor,

Que no chão do meu avô,

Sepultem os restos meus.

Falar sobre Zé pezim, puchador do bloco OS CALÇA FROUXA

Verseiro
Enviado por Verseiro em 14/01/2008
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