Estória de caçada contada por Coadinho

Primeira estória verdadeira de caçada

Aventura contada por

Coadinho F. nascoxa

Um certo fim de semana

Eu resorvi ir caçá,

Preparei a espingarda,

E arrumei meu patuá

Com bastante munição,

Pus sal, rapadura e pão,

E farinha no borná.

Peguei minha faca de caça,

Daquelas tipo Boê,

De tarzã americano

Qui dá inté gosto vê,

Minha rede de aruá

Mode fazê um mutá,

Donde os bicho ia bebê.

Esculhi duas árvre fina,

Distando umas duas braça,

Pois faço um mutá bem feito

Mode evitá a discraça

De fazê uma girigonça

E s~e cumida de onça,

De caçadô virá caça.

Cortei duas varas cumpridas

De mei parmo de grussura,

Amarrei logo a primeira

A dois metro de artura,

Entre as arvre nivelada,

Dispois subí na danada,

E fiz a outra amarradura.

A ôtra vara amarrei

Dois metro arriba daquela,

Atei os punhos da fianga

Uns dois metros arriba dela

De modo que me sentasse

E os meus dois pés ficasse

Apoiado inrriba dela.

É assim que cá no norte

A gente faiz os mutá

Entre duas arvre fina

Prás onça num atrepá,

Alí nóis espera a caça.

E quando a bicha passa

Só percisa dispará.

Sempre se arma o mutá

Quando vai entardecendo,

Pruqui num é bom ficá

No chão já escurecendo,

Pruqui se facilitá,

Num cuidá de se atrepá,

O cabra finda morrendo.

Dispois que anoiteceu,

Ficô escuro fechado,

Eu comecei a ouví

Como argo sendo arrastado,

E não sabia o qui era,

E conheço som de fera,

E o som vinha pro meu lado.

Eu fiquei arripiado

Pois num pudia intendê

Qui baruio era aquele

Qui num pude cunhecê,

Que coisa aterrorizante,

Minhas árvre neste instante

Cumeçaro a si tremê.

E elas foi se afastando

E esticando minha rede,

Sinti um mêdo disgramado

Acho inté que fiquei verde,

Sinti meu corpo gelando

Minha lingua foi inchando

Cheguei inté sinti sede.

Mais tentando reagí,

Eu tenntei me acarmá,

Acindi minha lanterna

Cumecei a ilumiar,

Pra baxo, prá ver qual era

A disgramada da fera

Que estava a mi apavorá,

Ia passando entre as árvre,

Uma sucuri da Pura,

A bicha divia di tê

Quinze parmo de grossura,

Quebrara a primêra vara

Que eu mêrmo amarrara

A dois metro de artura,

E a sua achatadura

Fazia ela se roçá

Nas duas árvre fina

Que eu armara o mutá,

Prssionando prus lado

Com um vigor tão danado

Qui fez a rede isticá.

Eu fiqui ali tremendo

Mermo assim fotografei

As costa da dita cuja

E acordado fiquei

Até quando o sol nasceu

E só as seis horas eu

Senti as árvre pará.

E entonce olhei prabaxo

I inda vi o rabão dela,

Depois de passá dez hora

Se arratando, foi qui ela

Terminô de entrá no rio

e inda hoje eu mi rio

Por tê iscapado dela.

Eu só tenho um documento

Mode prová prus prujilo,

Que naquela noite horrive

Eu passei por tudo aquilo,

Sofrendo aquela mazela,

A foto que eu tirei dela

Pesa cento e trinta quilo.

( E óia qui a fotografia só pegô um pedaço do lombo da bicha)

E num acrescentei nada, é tudo a puríssima verdade.

Mestre Egídio
Enviado por Mestre Egídio em 30/01/2008
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