ZÈLIMEIRANDO

Zelimeirando

Prólogo.

Hoje vou “Zélimeirar”

Embora um pouco aflito.

Talvez não faça bonito

Que mereça um dia o prelo.

Lí o Rubênio Marcelo,

Este meu querido Irmão

“Eita diabo de Cristão”

pra gostar de Zelimeira,

lembrou-me a vez primeira

que tive o livro na mão.

O livro de Orlando Tejo

Deixou-me arrepiado,

Mas hoje estou inspirado

A fazer “poetação”

Numa Zelimeiração,

Pois acho que levo jeito

Falando de um sujeito

Que um dia existiu...ou não..

E eu complico a questão

Falando do que tem feito.

Zelimeirando. 1º

Lembro da primeira vez

Que conheci Zé Limeira,

Quando um Cantador na feira

Recitava um verso seu,

Aquilo me comoveu,

Deixando-me impressionado

Passei a noite acordado

Pensando no que ele leu.

Era um verso interessante

Que falava de Jesus,

Porém não falava em cruz,

Em dor nem em sofrimento,

Não falava um só momento

Em coisas de salvação,

Sequer falava em sermão,

Ou que andou de jumento.

Falava só que Jesus

Um dia se escafedeu,

Que jamais apareceu

Conforme foi prometido,

Falou sobre ele ter ido

Sentar praça na “puliça”

De fazer muita justiça

E só depois ter partido.

Depois de adulto eu li

A vida de Zé Limeira,

E como da vez primeira

Também me impressionou,

Pelo jeito que contou

Que ele só andava a pé,

De ser um homem de Fé

Que escola não deixou.

De ontem prá hoje sonhei

Que estava fazendo versos,

De modos muito dispersos,

Todos sem pé nem cabeça,

Por incrível que pareça

Rimando tanta besteira

Lembrei-me do Zé Limeira,

E peço que ele desça.

Desça pra me orientar

E ativar-me a memória

Para escrever a estória

Deste sonho versejado,

E estando agora acordado

Que ele venha me ajudar

A escrever sem errar

Todo este sonho rimado.

Os versos do sonho.

Foi o Doutor Cunegundes

Um bom juiz de direito

Desembargador do feito

Da comarca onde vivia,

Era o seu dia a dia

Cheio de desembaraço

Vivia num cadafalso,

Mas teimava e não morria.

Tinha uma vida correta,

Honesto, embora venal,

Gostava de carnaval

Era profano e ateu

Sonhava ser um Judeu

Dos que julgaram Jesus,

Só almoçava cuscús

Igualmente um filisteu.

Vendeu a sua patente

A trinta e dois coronéis,

Quando ele fez os papéis,

Assinou tudo com giz.

Enjoou de ser juiz

Resolveu ser delegado

E após ter-se nomeado

Foi morar em São Luiz.

Pegou toda dinherama

Que ganhou na transação

Firmou um trato com o cão

Pra não morrer na pobreza,

Deitou-se embaixo da mesa

Embrulhado num jornal

Por ser um fato banal

Sequer causou estranheza.

A sua vida pregressa

Era cheia de tropeço

Porque teve mau começo,

Já nasceu arreliado,

Era filho de um soldado

Com uma velha rameira,

Nasceu no meio da feira,

Na zona foi batizado.

Não nasceu por um milagre

Em um primeiro de março,

Era tarde de mormaço

Quando sua mãe falou

Que a barriga entortou

E a tripa deu um gemido,

E ele foi expelido

Na hora que ela abortou.

Ela correu para a rua

Dando um suspiro tremendo

O povo que estava vendo

Ficou bastante espantado

Ele nasceu enfezado

Segurando um caranguejo,

Comeu farinha com queijo

E ficou empanzinado.

Por sua Avó foi criado

Com tremenda regalia,

Comeu bolacha Maria

Na hora que sempre quis,

E resolveu ser juiz,

Comprou a beca fiado,

Nunca pagou ao viado,

Morreu triste o infeliz.

Ele comprou u8m quiosque

Na praça da estação

Vendeu cachaça com pão

Sem confiar em ninguém.

Jogou na frente do trem

Quem falou em crediário,

Foi comuna, panfletário

E demagogo também.

Pra formar-se em História

Pela universidade

Praticou austeridade

De forma draconiana,

Prendeu por uma semana

O fôlego numa cacimba,

Mijou dentro da moringa

Da velha preta Joana .

Estudou todas as leis

Que já foram promulgadas,

Vagueou pelas estradas

Na forma de andarilho,

Almoçou bolo de milho

Grelhado na macaxeira

Subiu numa catingueira,

Jogou de lá o seu filho.

Formou-se em medicina

Na cura da brucelose,

Destrombou uma trombose

Teve setenta maleitas,

Professou dezoito seitas,

Foi increu e desumano

Afrontou seu soberano

Com dez classes de desfeitas.

Resolveu no monte Orebe

Fazer peregrinação,

Escreveu pra Lampião

De forma desaforada

Falou uma coisa pesada

Sobre a mãe do cangaceiro

Depois ofertou dinheiro

Pra ele não fazer nada.

Pra saber tudo da roça

Estudou agronomia,

Gastou o que possuía

Na compra de um arado

Que ficou enferrujado

Pendurado num trator,

Explodiu o reator

Ficando tudo acabado.

Aprendeu filosofar

Em quatro dias somente

Transou com a mãe do tenente

Floresbelo Mascarenhas,

Comprou um fogão de lenha

Que era movido a gás,

Depois que ficou rapaz

Não penteou mais a grenha.

Aprofundou-se no estudo,

Foi até Madagascar,

Lá resolveu passear

Montado em um camelo,

Fez uma bola de gelo

Num couro de cascavel

Depois comprou seu anel

Enrolado num novelo.

Passando o risco do mapa

Penetrou na Babilônia,

Casou com a doida Pelônia

Sobrinha de Juvenal,

Enfrentou um temporal

Na cidade de Soweto,

Comeu um gato no espeto,

Do couro fez um bornal.

Pegou pós-graduação

Na cidade de Medina

Era univitelana

A lombriga que pariu,

No dia que ele partiu

Foi um alivio tremendo,

Seu pai acabou morrendo

Da saudade que sentiu.

Depois voltou ao Brasil

Com tudo que era canudo

Tinha se formado em tudo

Por causa da inflação,

Maria da conceição

Tomou pílula de farinha

E o marido da vizinha

Foi o culpado da ação.

Depois que ele foi Juiz,

O mundo todo mudou,

Pois tudo que ele Julgou,

Julgou com bom julgamento,

Mandou partir um jumento

Imitando Salomão

Pegou o pó de sabão

Botou Raimunda pra dentro.

Sempre praticou o bem

Por causa da discrepância,

Morreu na primeira infância,

Mas depois nem quis saber...

Começou a escrever

Obras de litetarura

E na maior cara dura

Obrigou o povo a ler.

Aconselhou conselheiro

A desertar de Canudos

E fez profundos estudos

Da obra Euclidiana

Que com a Camoniana

Tentou achar paralelo,

Mandou a cópia pro prelo..

Sai na próxima semana.

Por tudo quanto ele fez.

Este grande brasileiro,

Que estudou no estrangeiro,

Que tinha trinta diplomas,

Sífilis, caxumba e lipomas,

Todos metastaseados,

E foi parafraseado:

“o que comeres , não comas”

Que ele sirva de exemplo

Aos jovens do meu Brasil,

Jamais foi homem servil,

Embora corruptível,

Sofreu de forma terrível

Por causa da deflação,

Engrandeceu a nação

Inventando o dirigível.

Se eu quisesse falar mais

Papel nenhum caberia,

Os atos que cometia

E o que deixou de fazer,

Mas hoje vou prometer

Nas palavras que ora somem,

Que sobre este grande homem

Voltarei a escrever.

Mestre Egídio
Enviado por Mestre Egídio em 03/03/2008
Código do texto: T885789