Minha Morena!

Acordei numa felicidade só.

Tratei logo de dar Bom dia,

Pra vizinha fuxiqueira,

Pro cachorro da minha tia,

E pra tudo quanto é gente

Que no meu caminho aparecia.

Depois, fui comprar leite e pão

Na bodega do Seu Belizardo,

Um senhor de cara abusada,

Que na venda não dispensa um centavo,

Avarento até a alma,

Nem pra mãe vende fiado.

Mas, Belizardo não esperava

Pela minha alegria de apaixonado,

É tanto que quando lhe dei um abraço,

Desses que deixa o sujeito envergado,

O véio ficou tão emocionado

Que me deu foi o troco errado!

Voltando pra casa,

Com uma sacola cheia de pão,

Encontrei na rua um mendigo

Jogado no chão:

Dei a ele o meu café-da-manhã

E em casa merendei carão.

No transporte público,

Puxei assunto com o cobrador:

perguntei como andava a vida,

A família, os meninos, o amor.

E durante nossa prosa animada

Só não falamos de Dor.

Cheguei na escola,

No começo da aula de matemática,

Uma matéria escolar

Que eu acho muito da antipática,

Nunca me entendi com seus ensinamentos,

Pra mim, é complicada e sem graça!

Pois, nesse mesmo dia

Me fiz um matemático exemplar:

Estudei o triângulo, o delta,

Resolvi equação de par em par,

Que quando olhei pra professora

A bichinha tava em tempo de chorar.

Eu que nunca fui

Muito de reza,

Passei a tarde na Igreja

Acendendo vela,

Agradecendo a mãe do céu

Pelos cuidados dela.

Não sou filho ingrato,

E minha alegria tem razão:

Puxei o rosário num folêgo só,

Rezei com fé e devoção

Por mim e pela morena

Que é dona do meu coração.

É que, recentemente,

Eu voltei a ser criança,

Ando a brincar na rua,

Cheio de esperança,

Navegando num Mar

Onde só há bonança.

Tenho vontade de rir,

Feito um maluco feliz,

Colorir todo o céu

Com uma caixa de giz,

Pra todo mundo saber

Que a morena me quis.

Peço perdão aqui,

Porque o nome da morena não vou dizer.

É pra evitar enredo alheio

E pros pais dela num saber,

Pois, nosso amor é uma frágil flor

Que precisa se esconder pra crescer.

Mas, posso garantir

Que nome mais doce não há:

É o nome que as Deusas, invejosas,

Ficavam no céu a pronunciar.

É o nome que Zeus só deu

A uma Iara do Mar.

Basta à vocês saber,

Que sinto no peito um vulcão,

O mundo é agradável,

Assim diz meu coração,

Mas, o nome da morena

Não posso dizer não!

Meiga, doce, majestosa

Amável como uma brisa amena,

Insuportável perfeição, insulto ao coração,

Artista precoce que rouba a cena,

Retrato da competência Divina

Assim, é minha morena!