DAS AMERICAS, O FLORÃO.
DAS AMERICAS, O FLORÃO.
I
Já dizia o grande Salomão*
Que o sábio oprimido faz loucura
E a ciência provou que na tortura
Toda carne se inclina a traição
Que a peita corrompe o coração
Soa altivo o adágio popular
Como um sino batendo sem parar
Pelos séculos em cada geração
Alertando, chamando a atenção.
Esperando que alguém possa escutar
II
Vendo isso eu fiquei a meditar
Na cultura da nossa formação
No contexto da nossa evolução
Cujo ônus tivemos que herdar
Más pior do que isso foi legar
Para os filhos a pérfida bagagem
Com a pecha estampada na paisagem
De “esperto”, corrupto contumaz.
Que nas horas difíceis, é fugaz.
Pois se mata, ou se entrega a vassalagem.
III
É cruel, porém essa é a imagem.
Que se pinta do povo brasileiro.
Exibida no mundo estrangeiro
Retratando a mais “fina” malandragem
Papagaio fazendo “garimpagem”
Convidando um turista ao paraíso
Como “chama”, ele usa o “sorriso”.
Das mulatas que dançam carnaval
Bronzeadas no nosso litoral
Desfilando, vestidas só num “friso”.*
IV
É preciso mudar, sim é preciso.
Tudo aquilo que for abominável
Reverter esse quadro miserável
Extirpando-o de um modo bem conciso
Para sermos de fato um paraíso
Fulgurante da América, o florão.
Onde os filhos libertos bradarão
És pra nós uma pátria mãe gentil
Salve, salve, entre as mil o meu Brasil.
Um gigante ostentando seu pendão.
V
Vem, Levanta-te! Colossal nação.
Retumbando o seu brado varonil
Tua honra, honra o povo do Brasil
Use as armas que tem um cidadão
Lance agora esses “laços” rumo ao chão
Proclamando a vossa independência
Dos estorvos que prende a consciência
Para termos de fato um Brasil novo
Com um governo do povo para o povo
Embasado na justa competência
VI
Não precisa usar da violência
As idéias, dissolvem os canhões
A verdade liberta dos grilhões
Os cativos da própria consciência
E o homem que tem inteligência
Sobre tudo ele prima à verdade
Não comunga com a leviandade
Trata a peita como se fosse a morte
A justiça é a sua clava forte
Contra a fúria insana da maldade
VII
Vem gigante, viver na liberdade.
Qual condor que pra si traça caminho
Que na penha, seguro faz seu ninho
Sem temer nenhuma adversidade
despojado de toda vaidade
ele é belo, impávido senhor
Entre os raios do sol do equador
Mira o brilho de um novo horizonte
Não dormita. Nem baixa sua fronte
Pois no peito não há nenhum temor.
VIII
Mostre ao mundo o teu real valor
Resgatando a tua dignidade
Investindo na vossa mocidade
Como faz o bendito lavrador
Que se apega a terra com amor
E no solo semeia o seu grão
Plante livros no povo, encha a mão
Incentive este povo a pensar
É a chuva quem leva o rio ao mar
E o saber fortalece o cidadão.
IX
Não deixemos pra próxima geração
É a agora o momento de mudar
De quebrar os grilhões, e conquistar
Pelo voto a nossa libertação
Dê um grito, viril nessa eleição
Erigindo por fim, teu braço forte
Liberdade, ecoe do sul ao norte
Já que o pífio murmúrio do Ipiranga
Colocou o Brasil na dura canga*
Que restou por quinhão da sua sorte
X
Vem garrida! Contempla o teu norte.
“Os teus filhos, em teus seios mais amores”.
A terceiro, relegue os exatores
Que te tem por amante, não consorte
E verás, quem te adoram a própria morte
Ostentando estrelado o teu pendão.
Ou será que Joaquim* morreu em vão?
Por sonhar com um Brasil independente
Governado por um da nossa gente
Cuja pátria se encerra ao coração.
XI
Emergido do solo da nação
Um caboclo nativo, brasileiro
Tal e qual o robusto juazeiro
Resistente às quenturas do sertão
Que nos túneis das veias, em pulsação
Tem o néctar das negras quixabeiras
E a força extraída das palmeiras
Açaí, do cacau, cupuaçu
Que nos ossos, tem cálcio da Açu
E potássio das ricas pacoveiras
XII
Com o ímpeto, que tem as cachoeiras
Paulo Afonso, Cipó e Iguaçu
A leveza da flor do mulungu
E as fibras das velhas aroeiras
Qual mourão que limita as fronteiras
Suportando do tempo a erosão
Na essência não há corrupção
Como o ouro que queima no buril
Assim é, o caboclo pau-brasil
Fulgurante da América, o Florão.