O hipocondríaco

Autor: Daniel Fiúza

28/01/2002

Eu perguntei prum amigo

Como ele ia passando

Como era hipocondríaco

De pronto foi relatando

Não andava muito bem

Disse-me tudo que tem

Das doenças foi falando.

- Sinto uma dor no pescoço

O meu fígado tá doendo

No baço tenho um caroço

Meu nariz tá escorrendo

Minha vida é um calvário

Sinto-me um centenário

Eu estou quase morrendo.

Dor de cabeça não passa

Tô c’a garganta inflamada

meu peito é uma desgraça

A noite é tosse danada

Desconfio duma enfisema

Minha pleura é só pustema

Acho até que tá inchada.

Tenho mil pedras num rim

Tá doendo noite e dia

Meu pâncreas já ta no fim

Tenho fissura na bacia

Por isso eu vivo tonto

O resto eu já te conto

Sinto uma grande agonia.

Meu olho tá remelento

Eu não enxergo direito

No ouvido é um tormento

Tenho um chiado no peito

Sinto sempre tremedeira

Isso não é brincadeira

Minha saúde não tem jeito.

Como dói minha gastrite,

Aposto que tá sangrando

Sofro muito com rinite

Eu estou me acabando

Peguei uma doença ruim

Só fico esperando o fim

Muitos remédios tomando.

O meu reto tá enrolado

Prisão de ventre apertando

Meu coração disparado

Parece até enfartando

Vou ter que fazer safena

De mim eu morro de pena

Quase não tô respirando.

Minha bexiga tá ferrada

Assanhou meu reumatismo

A vesícula supurada

Sofro de pânico e histerismo

Hipertenso e diabético

Só vivo na mão de médico

Pra curar meu impaludismo.

Minha pele tem impetigo

A próstata comprometida

Uretra minha é um perigo

Na minha boca tem ferida

A faringe é uma lastima

só a madona de Fátima

Pra salvar a minha vida.

Dor de dente e fadiga

A voz é uma rouquidão

Tenho insônia e lombriga

Na laringe só aflição

No estomago tenho azia

Minha saliva, quem diria.

Amarga que nem limão.

Meu joelho vive inchado

Escuto mal, tenho otite

Meu intestino tampado

Quando urino arde à cistite

C’a hemorróida inflamada

Uma unha encravada

Sofro de conjuntivite.

Desconfio do pulmão

Pode ser pneumonia

Nas alturas minha pressão

com tontura e nevralgia

Tortura-me a enxaqueca

Minha garganta vive seca

Quando durmo o peito pia.

Lá da farmácia eu venho

Fui aviar uma receita

Tirando a hérnia que tenho

Duma operação mal feita

Eu vou falar pra vocês

Só convênios eu três

Minha saúde é perfeita.

Cordel dedicado aos meus amigos médicos e cordelistas: Herculano Alencar e Lílian Maial. Ambos mestres nessa divina arte popular do cordel.

Daniel Fiúza.

Domfiuza
Enviado por Domfiuza em 25/03/2008
Código do texto: T916472