UM PEDIDO DE NATAL


UM PEDIDO DE NATAL
Sandra Mamede



Reclamamos de tudo. Nada nos é totalmente agradável, totalmente perfeito.
Reclamamos quando chove, porque a chuva dificulta a nossa locomoção, os meios de transportes ficam mais escassos, as ruas alagadas... etc...
É certo que tudo em exagero tem seus inconvenientes e a chuva torna-se perigosa para aqueles que moram nas encostas e em outras áreas de risco, entretanto as vezes esquecemos o quanto ela é necessária para a vida.
Reclamamos quando o sol está intenso porque nos incomoda. Em momento algum ao invés de reclamarmos, olhamos para o céu lindo, maravilhoso de um azul intenso e extraordinário, e agradecemos a Deus por um dia tão fabuloso!!!
Reclamamos do que gostaríamos de ter e não temos, do que temos e não gostamos, do nosso emprego, dos nossos amigos, da nossa vida e até mesmo do nosso corpo... sim, do nosso corpo. É uma insatisfação tão grande que hoje em dia tornou-se uma obsessão a transformação do corpo. Homens e mulheres, buscam o corpo perfeito, e para isso, recorrem e se submetem a todos os tipos de tratamentos, mesmo sabendo que futuramente estes poderão a vir prejudicá-los.
Hoje, já não sabemos o que é natural e o que é artificial no ser humano (principalmente nas mulheres).
Cabelos longos e lindíssimos que lhes são emprestados através dos alongamentos, cílios postiços, olhos de todos os tipos e cores através das lentes de contato, bundas e seios siliconizados e muitos outros recursos disponíveis, como a cirurgia plástica, lipoaspiração e mais uma gama de opções disponíveis para que se possa alcançar a beleza perfeita e total.
Longe de eu querer condenar alguma coisa, muito menos a vontade de se melhorar a aparência, principalmente se isso ajudar a pessoa a se aceitar melhor, a obter mais equilíbrio e segurança. Na verdade o que condeno, é a obsessão, a falta de peso e medida para conseguir se chegar a um fim, e é exatamente por isso que quero contar um fato que alguém presenciou e que quando me contou quase chegou às lágrimas, o que me emocionou bastante também, pois a medida que ele me contava eu visualizava o quadro...
Aqui em Salvador existe um terminal de ônibus por nome Estação da Lapa, é onde existe maior fluxo de ônibus aqui na cidade para todos os bairros. Deve ter uma média de 4 pavimentos concretados e funciona praticamente 24 horas. Bem próximo a esse Terminal, existe um Shopping com o mesmo nome que se tornou praticamente passagem obrigatória para o Terminal. È um Shopping simples, sem luxo nem pompas , mas que tem muitos eventos. Agora no período de final de ano, cada dia tem uma programação, corais, peças, cantores, exposições... etc fora, a decoração com árvores, presépios, bolas gigantes, que todos vocês já conhecem que é muito comum em todas as cidades, e foi exatamente na frente de um desses presépios que o fato aconteceu...
A pessoa que presenciou fato estava de passagem pelo Shopping, para chegar ao Terminal da Lapa, pois se dirigia ao trabalho. Contou que em dado momento, alguém lhe chamou atenção. Um homem negro, defeituoso das pernas, sem nenhuma coordenação motora pois mesmo utilizando muletas tinha dificuldade para andar, na verdade ele arrastava-se, as muletas serviam somente para mantê-lo de pé, ao mesmo tempo que sua cabeça não conseguia manter um certo equilíbrio, pois conforme ele se movimentava, ela fazia um movimento brusco, desordenado, parecendo ser portador de um certo retardamento mental, era um quadro "dantesco"...
O que chamou a atenção era que ele ia na direção de um presépio...depois de muito arrastar-se ele conseguiu chegar a frente do presépio... parou... com uma grande dificuldade ele tentou falar alguma coisa, de depois de muito esforço, de muito abrir e fechar a boca, ele conseguiu balbuciar as seguintes palavras: " Jesus, tem pena de mim!!!!!!"
Será que preciso ainda escrever alguma coisa?! Esclarecer alguma coisa?! Chamar a atenção para mais alguma coisa?!
Deixo para você, meu querido leitor, nesses dias que antecedem o Natal, rever a sua posição diante da vida, diante do mundo que o cerca, diante das pequenas coisas que fazemos tomar proporções enormes, deixando que nos abalem, que nos tornem descrentes, amargos, agressivos, esquecendo de que temos mais a agradecer do que de nos queixar. Que existem muitos a nossa volta sem nada ou com o mínimo e que nem por isso, reclamam ou se revoltam, pelo contrário, que ainda têm coragem e fé de parar diante de um presépio e com toda humildade rogar pela misericórdia de Jesus...