Lembranças do Natal

Lembranças do Natal

Eu gostava de ver o Presépio que eles armavam todos os anos na entrada do Mercadão. Ficava tudo muito bonito. As aulas acabavam e logo depois a gente aguardava ansiosa o dia do Papai Noel. Nós não tínhamos hábito de escrever cartinhas, nem estes pequeninos detalhes. Acredito que minha mãe não nos encorajava, pois sabia que não teríamos nossos pedidos atendidos. Eu tive uma prima, que sempre escrevia para o bom velhinho e pedia para seu padrasto colocar a carta nos Correios. Ela já era bem grandinha, mas acho que mantinha este hábito por causa de sua irmãzinha.

Lembro-me do bolinho de bacalhau, feito por minha mãe, bem fritinho, que ficava uma delícia e estalava na boca. Gostava também quando meu tio João vinha nos visitar. Ele era muito alegre e depois de uns bons copos de vinho ficava muito vermelho. Era só alegria.

No dia seguinte na vizinhança tinha um verdadeiro desfile de bicicletas, bolas, bonecas, e outros brinquedos. Fico muito emocionada, ao lembrar-me. Uma vez, meu irmão do meio ganhou uma bola de futebol. Ele ficou tão feliz que parece que aquele foi o melhor presente que ganhou durante toda a sua infância.

Nossa árvore de Natal era pequena, feita com os galhos de uma árvore que tínhamos no quintal, coberta com pedaços de algodão, pendurávamos algumas bolas vermelhas, azuis, douradas e verdes, alguns anjos, Papai Noel e caixinhas pequenas forradas de papel de presente.

Minha casa pequena ficava cheia de pessoas da família. Todo ano era a mesma rotina. Éramos felizes. Algumas vezes, lembro-me que minha mãe adoecia. Ela tinha crises de asma e num desses anos ela ficou tão mal, que pensamos que ela iria nos deixar. Dois ou três dias antes do Natal ela ficou tão mal que tivemos que chamar o médico em casa. Quando ela melhorou pudemos então visitar nossa tia, irmã de minha mãe e passar o Natal por lá. Minha madrinha e meu padrinho não ficavam em casa no Natal, eles iam para a casa da mãe do meu Dindo e só voltavam no dia seguinte à noite. Nós tínhamos uma vizinha muito alegre que adorava tomar um vinho. Lembro-me de uma véspera de Natal que ela bebeu tanto vinho que ficou muito tonta e quase deixou de preparar a ceia para o seu marido e sua filha adotiva. Foi muito engraçado.

Tinha certa poesia nessa infância distante. Hoje também sinto poesia nas coisas presentes, mas a infância é um país que não deixamos jamais de sentir saudade. Para mim, Natal, é uma viagem involuntária para um mundo de sonhos que não terminam quando a gente cresce. Eu ainda guardo em minhas profundezas a magia do Natal dos tempos dantes, para colorir alguns pedaços dos dias cinzentos do hoje.

Aradia Rhianon
Enviado por Aradia Rhianon em 09/12/2011
Reeditado em 28/11/2013
Código do texto: T3380793
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.