Milagre de natal

Rosivaldo no alto da ponte olhava tristemente as águas sujas e revoltas do rio. A ideia de suicídio ganhando espaço em sua cabeça confusa. Sentia-se um nada, um sujeito sem sorte, um pai e um marido ruim. Aquela era a pior noite da sua vida. Era noite de natal e para ele não havia nada a ser festejado. Não havia comida suficiente em casa, à luz havia sido cortada, sua esposa estava adoentada depois de um aborto espontâneo, mas oque mais lhe doeu foi ver o filho de quatro anos correr ao seu encontro quando chegou, com as mãozinhas estendidas esperando ganhar o tão sonhado carrinho de corrida. Como explicar a ele que oque recebeu mal deu para pagar o aluguel e comprar um pacote de macarrão? Que oque tinha no bolso no momento era apenas uma nota de cinco reais para pagar a passagem para ir trabalhar dali a dois dias? Oque Rosivaldo fez foi pegar o filho nos braços e entrega-lo para a esposa sentada resignada no velho sofá, tentando ler a bíblia na fraca claridade de uma vela e em seguida saiu sem destino. Seus pés o levaram para a única ponte da cidade. Lágrimas de frustração escorriam pelo seu rosto sofrido, quando percebeu que não estava só. Ao seu lado estava um menino maltrapilho, muito magro, de aproximadamente sete anos. A criança o olhava fixamente e isso o incomodou. Pediu para o menino sair dali, pois queria ficar sozinho. O garotinho sorriu triste, e disse não ter comido nada o dia inteiro. O coração de Rosivaldo se condoeu. Imaginou que poderia ser o seu filho ali reclamando de fome, e em um impulso enfiou a mão no bolso e pegou a nota de cinco reais e entregou ao menino. Após receber o dinheiro o garoto o abraçou, e perguntou se ele tinha filho. Emocionado o homem respondeu que sim. O menino então tirou de debaixo da blusinha surrada um embrulho, e o entregou. Disse que havia ganhado naquele dia, mas que para ele que vivia nas ruas não era tão importante e que preferia dar de presente. Dizendo isso o garoto se afastou rapidamente. Rosivaldo ainda o chamou. Não se sentia confortável recebendo da criança o presente, mas o menino sumiu na escuridão. Curioso o homem abriu o embrulho e encontrou dentro dele um carrinho de corrida. Novamente as lágrimas brotaram dos seus olhos e soluçando ele retornou a sua casa. Ao chegar, porém, uma surpresa o aguardava. O pequeno barracão estava todo iluminado e o som de conversas e risos o atingiu ainda no portão. Cabisbaixo ele foi entrando e foi abraçado amorosamente pelos vizinhos que vieram até a sua casa comemorar com ele e sua família o natal. A mesa da cozinha estava repleta de comes e bebes e o som de uma música natalina enchia de alegria o ambiente. Mais uma vez naquela noite Rosivaldo chorou, mas dessa vez foi de alegria. Ao procurar no bolso o lenço para secar as lágrimas, suas mãos tocaram o embrulho e chamando seu filho lhe entregou o carrinho. A felicidade estampada no rostinho da criança emocionou a todos que estavam presentes. O garotinho abraçou, beijou o pai e disse entre gargalhadas: _ Eu te amo papai. Feliz natal! Vânia Lopes (Que um milagre de natal aconteça a todos que lerem essa crônica.)