A PEDAGOGIA DO PRESÉPÍO

“ Reconheço a felicidade pelo barulho que ela faz ao partir “

Jacques Prévert

É uma tradição que me traz felicidade .

Em novembro, já começo a pensar na confecção do presépio que ficará exposto na minha sala de jantar até o dia sete de janeiro do Ano Novo : um dia após o Dia de Reis.

Por volta de 1992 , eu mesmo fiz as peças , uma a uma , de argila : pintei-as com esmalte .

O modelo utilizado foram as de um outro presépio : o que meu pai montava todo Natal , em minha casa , quando ainda eu era criança e só colocava a mão nas imagens com autorização e sob supervisão de alguém mais velho .

Eu e meu pai fizemos e desfizemos muitos presépios. Cada peça , ao ser colocada , tinha uma história que era contada e recontada : foi assim que me interessei pelo Novo Testamento ( e depois pelo Antigo) .

Lembro-me , inclusive , dos presépios que o vi montar sob uma escadaria da residência da família Biagi , quando ainda era vivo Baudílio: ali , perto do prédio do Estadão .

Muitos são os nascimentos do Cristo em minha memória e muitas foram as vezes em que , no Dia de Reis , logo de manhã , colocávamos as imagens , todas , em torno e bem perto da manjedoura , para significar a chegada dos Reis Magos .

Aprendi a nunca ter preconceito de cor com a presença constante de Gaspar , sempre ali, ao lado do Menino Jesus .

Aprendi a importância da reunião dos membros da família , com José e Maria , sempre ajoelhados aos pés da Criança : e, assim , o amor pelas crianças.

Aprendi a importância dos mais humildes, de tanto posicionar o pastor e suas ovelhas no mesmo espaço reservado ao nascimento do Filho de Deus .

Aprendi a amar os animais , o jumento e a vaquinha , porque os vi aquecendo Jesus , anos e anos , nos presépios da minha casa.

Aprendi a olhar e admirar o céu , a areia , os coqueiros , visitando o presépio que , na vitrine das Lojas Diederichsen , era tradicionalmente visitado pelas pessoas que passeavam pela cidade nos dias que antecediam o Natal.

Aprendi , com o plantio antecipado das sementes de arroz , ainda em casca , que existe um momento certo de plantar, para que brotos saudáveis e resistentes possam agüentar o passar dos dias : assim era obtida a erva verde que permeava as dunas de areia , do presépio de imagens quase em tamanho real.

Tenho certeza de que Suzane Louise von Richthofen nunca viu e nem participou na montagem de um presépio ao lado de seu pai , Manfred.

Ela sempre teve tudo , ou quase tudo . Faltou algo : talvez um presépio.

Termino de escrever este artigo e já começo a pensar no meu presépio 2006, desejando que cada leitor faça de seu coração uma manjedoura onde o Cristo possa renascer , mais uma vez , ou até nascer , quem sabe , pela primeira vez , de uma série de muitas.

Tórtoro
Enviado por Tórtoro em 19/12/2005
Código do texto: T88416