Anel de noivado

O navio navegava. Os pássaros cantavam. Tudo caminhava como nos contos de fadas. E ela, ao meu lado, falante como um anjo deslumbrado. Na verdade eu me deslumbrava com a sua beleza. Com a beleza irremediável de suas mãos, para mais sincero ser. As cutículas bem feitas, as unhas nem muito curtas, nem muito compridas. Os dedos gélidos e fininhos. As veias que lhe corriam à mão, deitada sobre os joelhos. E lá estava, em um dos dedos, o pequeno pedaço de metal dourado. Sentia-me orgulhoso. E ela, modéstia à parte, também sentia-se lisonjeada. Várias vezes o vislumbrei quando passava pela Rua dos Inválidos. E agora ali estava cabendo perfeitamente naqueles dedos sublimes. E ela mexia os joelhos, deixando escapar os dedos dentre as pernas. Mas logo os danadinhos voltavam à superfície, como que por ímpeto. A pequena tira dourada dava destaque às suas mãos de fada, ao passo que as suas mãos maravilhosas ressaltavam o brilho da jóia. E quando a mão esquerda levantava para espantar alguma borboleta que deslizava-lhe ao nariz, fazia com que o dedo médio segurasse o anel, medo de perde-lo. Todavia, não era só o anel que me deixava enamorado, era o que este simbolizava. Realmente havia sido uma decisão e tanto... E o meu pensamento voltava e fixava-se no pequenino pedaço de metal, que muito bem vestia a moça. Pensava também no par daquele anel, igualzinho, lindo e elegante, que com certeza jamais caberia em meu grosso dedo amargurado. O par da pequena tira de metal dourado, cujas medidas não eram as minhas...

Andrea Sá
Enviado por Andrea Sá em 17/01/2006
Reeditado em 17/01/2006
Código do texto: T100031