LOUCURA E LUCIDEZ

Chegar á beira da loucura (e recuar) não é uma experiência agradável, o gosto é horrível, de um amargo absurdo. Torna-se tão mais insuportável quando percebemos com lucidez que estamos entrando nesse lado desconhecido e tenebroso. Nasce aí um sentimento de aflição, desespero, insegurança, percebemos então a nossa fragilidade e a angústia aumenta.

Tentar fixar o pensamento, segurar a racionalidade são reações imediatas, mas, todos os problemas tendem a se misturar e ficam insuportáveis, cenas seqüenciais, aquele grito preso, a procura desesperada pela válvula de escape, oh! Como é ruim. Imploramos misericórdia a um Deus, que há muito tempo havíamos esquecido.

Prendemos, camuflamos esse turbilhão de coisas acontecendo no nosso interior para não deixar transparecer quão perto estamos da loucura e longe da racionalidade tão cultuada. Que erro cometemos!

Esse é apenas o limiar da loucura, pois, se entrarmos de fato nela as coisas mudarão. A loucura é tão sedutora! Podemos compará-la com um enorme casarão cheio de quartos, cada um, cheio de peculiaridades. O primeiro é todo branco, com uma enorme poltrona central, oferta de alienação completa; o segundo é todo cheio de figuras, livros, informações, oferta de conhecimento superior ininteligível para a atualidade; o terceiro é o quarto das possibilidades, o sujeito que nele entrar poderá modificar o passado, consertar os seus erros. Assim segue uma sucessão de quartos, com inúmeros atrativos.

O último deles é o mais perigoso, caso consigas sair de todos no último tu não deves entrar, pois, dificilmente sairás. Assim como o primeiro, ele aparentemente é vazio, no centro está uma poltrona muito confortável, a parede em frente a ela é uma enorme tela, eis o perigo, nela é projetado imagens idílicas, maravilhosas, pessoas perfeitas. A ti é dado um controle, coisa que te dará impressão de liberdade, triste ilusão! Chegarás a um ponto de querer viver com eles, projetar teu corpo para a tela e mergulhar em uma realidade fantasiada, onde tu terás o controle de tudo (mesmo não tendo o autocontrole), onde serás livre (mesmo preso na tua mente).

Em qualquer um dos quartos em que permaneceres, a realidade do mundo exterior te será usurpada, ainda que nem percebas. Teu corpo coitado sofrerá as duras conseqüências da escolha da tua mente.

Mesmo a realidade sendo tão severa, prefiro-a!