ALQUIMIA DA ATRAÇÃO - II Ano

Se você me perguntasse o que eu sei sobre M., não saberia dizer coisas muito relevantes.

Sei por exemplo, que M. faz faculdade de história, deve (eu disse deve) estar na faixa dos vinte e poucos anos. Adora uma festa, uma badalação. Freqüentamos os mesmos lugares... faz mais ou menos um ano que observo M. à distância. Não sei ao certo o porquê disso, mas algo me atrai fortemente. Lógico que sua beleza, seu tipo físico conta muito, e faz meu mundo rodar quando nos cruzamos. Mas será que é apenas isso?

Nunca tivemos a oportunidade de conversar pessoalmente... toda vez que nos vemos, há um flerte no ar, um jogo de olhar. Mas nunca acontece nada além disso... nem da minha parte, nem na parte de M.

No MSN já conversamos, nada muito pessoal, tirando uma vez que M., sem me conhecer, me convidou para uma viagem. Infelizmente estava muito em cima, e na verdade eu não sabia se era espontâneo ou se M. estava apelando para a educação.

Houve uma vez também em que eu estava conversando com uma menina, ela tinha me chamado para dizer que eu parecia um cantor famoso de uma dessas bandas da atualidade. Eu meio sem graça puxei papo, e quando olho para o lado, M. estava ao meu lado, disponível pra fazer parte daquela conversa. Mas a porta do banheiro se abriu e Caipirinha (uma amizade minha) ao ouvir uma música vinda da pista, me arrastou dizendo que adorava tal canção. Novamente M. se afastava da minha realidade.

E quando penso em M., fico me questionando, me perguntando como posso sentir tanto desejo por alguém totalmente desconhecido, anônimo, distante.

Talvez M. seja besta, talvez beije mal, talvez não tivéssemos nada a ver. Mas sempre que nos vemos, é como se no fundo eu tivesse a certeza que NÃO! Há uma atração que dispensa apresentação. É uma afinidade que ultrapassa o conhecer. Como os antigos dizem, M. tem uma cara boa. Transpira confiança, e me causa uma revolução quando estou na sua presença. E acho que isso se chama química.

Acredito que no fundo somos todos magos, temos um sexto sentido, uma sirene que sempre é soada quando alguém nos atrai... Às vezes é no peito que dispara, às vezes são os olhos que se fitam e não querem desgrudar, em outras vezes é mais em baixo, dentro da calça! (Mas todas nos alertam, nos informam, nos avisam que tal pessoa mexe conosco.)

Isso acontece por qual fator? Energia? Cheiro? Pele?

O que é determinante pra você no jogo da atração? O tipo físico, uma boa conversa, caráter, ou isso tudo é relativo? Para mim com certeza isso tudo é relativo, variando a cada encontro. Às vezes o seu tipo perfeito... na prática não funciona, e o seu – não vou nem pagando! – faz toda a diferença.

Acho que isso que é legal, em relacionamentos... Assim como na Alquimia tudo pode se transformar, sofrer uma mutação e acontecer!

E em uma dessa noites, a alquimia aconteceu... e as coisas se transformaram.

Estava eu na pista, dançado, curtindo, quando vejo M., na mesma. Logicamente aquela atração começou a me consumir, até que perdi M. de vista e resolvi sair da pista, e beber alguma coisa. Nessa altura o calor era demais. Ao sair, um buraco se abriu entre a pista e o bar, e quando eu estava saindo, M. entrava. Nos olhamos e rimos... era como se nos conhecêssemos.

M. estava com uma bebida nas mãos e eu indo comprar. Muita coincidência. Indiquei com a mão que M. podia passar, e assim se fez. Ao passar por mim, ele segurou minha mão com um sorriso de ponta a ponta no rosto.

Foi como se tudo à minha volta tivesse paralisado, era apenas eu e aquele imenso desejo. Seu toque era exatamente eu como imaginava. Sua boca começou a pronunciar alguma coisa... mas eram apenas gestos ao som ensurdecedor que vinha das caixas de som. Após falar alguma coisa, ficou olhando para mim, que sem saber o que dizer balancei a cabeça concordando e atravessei o buraco indo até o bar.

Estava atordoado... não esperava por aquilo, não naquela noite, não naquela hora. Tinha passado tempo demais idealizando e quando de fato aconteceu minha cabeça ainda acreditava que era um sonho.

O que M. havia me dito na aquela noite... até hoje eu não sei!!! Confesso que me crucifiquei por não ter perguntado de novo, ou ter dito o clássico: o que você disse?!

Mas eu sei que não teria como, fiz o que eu podia, talvez aquele toque me paralisou, como uma poção... Talvez um dia eu saiba, talvez não?

E essa é a magia de viver... nesse caldeirão chamado Vida, podemos descobrir pedras filosofais, ou apenas encontrar ouro de tolo.