A moça de Nova Deli

Num desses domingos, sem nada para fazer, além da promessa de ler pelo menos quinze folhas do livro atual; Resolvi cumprir a promessa de levar ao amigo Napoleão Bonaparte – já senti a curiosidade dos leitores – Maia é seu sobrenome, portanto de uma vez por todas encerrada a curiosidade que seria bem vinda não fosse esta crônica o supra sumo da realidade.

Resolvi levar ao bom amigo um exemplar do calendário da Caixa E. Federal.

Tudo feito. A garrafa de água, meus documentos e todas as tralhas de um pré-ancião, e além destas o calendário que seria dado sem cerimônia e que faria com que o amigo todas as manhãs ao acordar, olhasse para os grandes números e voltasse à vida através dos seus compromissos.

Tudo bem, a mesa estava vazia. Pedi o de sempre. Jime a agradável surpresa, como sempre sem pressa , chegou e puxou o refrão. Psicologia, depois a farmacologia que caminha junto com os neurônios e portanto, os colaterais. E depois sem pressa, começamos a conversar amenidades. Aí vem ele... o tema de minha crônica.

Havia eu conhecido uma jovem que chamou minha atenção por um pequeno cachorinho, que trazia sempre consigo, preso em suas mãos jovens e frouxas, como se fora uma excrescência de sua personalidade juvenil. Então, lembrei; já havia visto esta criança antes, e minha lembrança foi atiçada pelo modo delicado como ela saudava os colegas de bar. Com beijinhos. Neste dia, por brincadeira, já que pela própria convivência estávamos nos aproximando, pedi um beijo também. Foi agradável perfumado. Prosseguimos na conversa fiada o “lero-lero” e antes que acabássemos o napa estava de volta com uma nota de R$ 5,00 (cinco reais na mão).

Já éramos seis, a cerveja era puxada, como num parto, a fórceps, e muitas delas o bom samaritano - o idealista desta crônica puxava com lágrimas no bolso. Elas jogavam pesado. O leitor logo pergutará: Elas? E quem era a outra. De-me um tempinho, enquanto repito o CD do Zeca Pagodinho em meu home theater, depois volto a justificar minha escrita

Nascida em Nova Deli, a moça que parecia-me antipática e para a qual jamais olhei direto, coisa minha, bem minha, já sem cerimônias, estava aboletada a mesa. Não sei por que em determinados momentos algumas músicas surgem como se fossem natural, normal , algo que tem uma necessidade de fluir. E fluiu. Toquinhos na mesa , e para minha surpresa – sem a intenção dos poetes, a rima avultou , não que eu estivesse compondo – estava eu como de costume, no desleixo do álcool, batucando um sambinha. Imediatamente uma voz afinada fez o contraponto ao barulho feito por mim.. Continuei, e fomos embora, no rítimo, sem ensaio para, enfim concluirmos a nossa grande prosopopéia.

De repente um incidente aconteceu. Coisa feia, caso de polícia que narrarei daqui a pouco, enquanto refresco a boca e o juízo com um gole de água.

Bem que poderia ser armação, para segurar meus impacientes leitores. Pois bem; Não é. Ela estava chorosa, isto também eu não havia falado, É meio bonita, mais p’ra cantora do que p’ra mulher fatal. Aí minha cabeça fumaçou. Lembrei Dalai. Jung chegou junto e o livro que falei nos primeiros parágrafos flutuou em nossa desgraça. Shopernhauer e nietzsche banharam imediatamente a mesa.

Infelizmente, para a emotiva companheira, os axiomas filosóficos deviam tal qual uma granada estraçalhar seu cérebro num paradoxo infernal.

A cor púrpura dos maometanos tomou seu corpo exagerando ainda mais a dubiedade da extravagante colega, certamente, os estilhaços caberiam melhor naquele pequeno corpo da nossa cristã, que já embolsara os reais e ria discretamente de sua vitória , sem quase nenhum disfarce , visto que pelos próprios anos que compunham sua vida não desenvolvera ainda o ardil tão necessário e severo para iludir os seus interlocutores e este cronista.

"Sexo fede, o que vale alguns minutos de êxtase, e meses de repúdio. Para que sexo, atração, amor; Se temos tudo isto em nos mesmo. Nós somos o que queremos ser e quando realmente somos é fácil sentir nojo dos que estão próximos, na realidade para nos que somos eles não cheiram bem.. E é por isso que devemos procurar a nos mesmos."

Melhor deixar logo tudo isto p’ra lá. Fisolofia p’ra que? P’ra atrapalhar os meus leitores? Não. Não é essa a minha vontade. Se quiseres saber meu companheiro – sua tolerância chegou até aqui, portanto não posso mais ficar divagando, enquanto a cachaça desce em pequenos goles, e a cerveja, me faz lembrar o tema desta crônica. Logo acabarei tua curiosidade. Porém peço que não esqueças: Jesus foi vendido por trinta moedas...

Por Cr$ 5,00 reais a princesa, evadiu-se, sumiu. Não quero encerrar tão rápido minha escrita, porém em respeito aos meus leitores colocarei um uma interrogação no final, para aqueles mais pacientes desenvolverem a seu modo um segundo fim para esta crônica.

Enfim, a primeira foi embora com o Imperador. A outra ainda estamos,eu e os que se dispuserem, decidindo a sua vida:Ajudem-nos, qual será o destino de Ana?

Ananda
Enviado por Ananda em 24/05/2008
Reeditado em 09/08/2008
Código do texto: T1003223
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