"Esperança e Vontade": Tesouros que a Traça não corrói

Recentemente, encontrei Paulo César. Havia tempos que não o via. Uns 15 anos, talvez. Mais velho! Magro! Alguns poucos cabelos grisalhos. Poucos mesmo! Para a idade. Com quanto estaria hoje, 50? 55? Acho que uns 55! Pensei. Aproximei-me dele! Não poderia deixar passar a oportunidade de conversar com o amigo de tanto tempo. O que estaria fazendo aqui no interior. Sempre morou na capital. O que haveria sido de sua vida nesses anos.

- Ola! César! Como vai? Lembra-se de mim?

- Maurício! Há quanto tempo! Que surpresa encontra-lo. Sabia que morava aqui, mas não tinha nem como descobrir onde. Estive pensando em visitar a empresa onde trabalha para perguntar de você. E aí? Me conta! Como vão as coisas!

- Bem! Respondi! Saí lá da empresa faz uns 6 anos. Agora estou ensinando na Faculdade e vendendo serviços para um Armazém. De certa forma, continuo no ramo! E você? O que faz aqui nessa cidade pequena?

- Estou tentando recomeçar a vida! São Paulo ficou mais difícil para trabalhar! Muita concorrência. E você sabe como é, já estou com 57. Ninguém quer me dar uma chance. Com tudo que conheço desse ramo, resolvi tentar aqui porque faltam profissionais e, a família da esposa é daqui. Mas confesso que tenho passado alguns maus momentos.

Cinqüenta e Sete anos! Pensei. Que situação complicada. Lembro de César visitando minha empresa e oferecendo seus serviços. Naquela época. Trabalhava para uma empresa americana. Vendia serviços de transporte. Estudou em Universidade de primeira linha. Acho que no Mackensie. Tinha pós graduação em Marketing quando ninguém nem sabia o que era isso! Inglês fluente. Viajava constantemente para os Estados Unidos. E o jeito de Lord Inglês? Continuava perfeito! Não mudara, em nada! Com todo seu conhecimento, uma humildade e empatia que o tornavam admirável. Disse que passava alguns maus momentos. Apesar de não transparecer, devia estar desgostoso com a vida, pensei.

Mas me conta César. - A quais dificuldades se refere?

- É meu amigo, sabe como é! A Diferença de ganhos aqui no interior é muito grande. Tenho comigo uma grande batalha da aceitação. Impossível voltar a situação anterior. Eu já aceitei o fato e dentro do que é possível, faço o melhor. Chegando aqui, procurei uma casinha. Não posso alugar! Sabe como é, daqui algum tempo retorno para o “outro mundo”. Pensei na esposa e no filho que ainda mora conosco e da melhor maneira, quero ampara-los. Mas a esposa, acostumada a viver na Vila Mariana e a fartura que tivemos por muito tempo, sente maior dificuldade. Tenho procurado amenizar-lhe o sofrimento. Porém, não é fácil. É o que dizem: “É fácil acostumar com a riqueza mas a pobreza..., não há quem acostume”. Despedimo-nos!

Nos últimos meses, tenho encontrado Paulo César. Para mim, o César! Paulo para a família e clientes! Nossas empresas trabalham no mesmo ramo de negócios. Até já fizemos algumas viagens juntos. Aproximei-me muito mais do antigo colega. Agora, amigo. Confesso que tenho acompanhado seu esforço e, considero-o um vitorioso a cada dia. Não desiste! Acredita sempre! Manteve seus valores morais e éticos, muito embora a situação de penúria tivesse provocado-o a queda! Guarda a bagagem de conhecimentos e a gentileza como seus maiores tesouros e embora empobrecido, mantém-se de posse de grandes riquezas. Enquanto outros, talvez eu mesmo, tivessem caído na falta de esperança e no desgosto pelo passado perdido, César demonstra uma vontade de continuar a trajetória acreditando que a batalha está ganha e não perdida.

Em poucos meses, a constância da presença do amigo mostrou-me várias situações trazidas pelo Evangelho de Jesus: “Ajuda-te e o Céu te ajudará”; “Creia”; “Procure acumular tesouros que as traças não corroem e o ladrão não rouba! Eles serão sua riqueza quando chegar do outro lado”. Se não deixar bens materiais, quando fizer a derradeira viagem, certamente César deixará o exemplo de uma vida recheada de erros e acertos e a saudade naqueles que o encontrarão do lado de lá . Vivamos o evangelho, tanto quanto possamos! Façamos nossa caminhada, proveitosa em benefício próprio, a cada passo que empreendermos. Porque o Mestre nos ilumina e nos ampara. redigido em 23/09/2004

Mauricio Gonçalves de Moura
Enviado por Mauricio Gonçalves de Moura em 18/01/2006
Código do texto: T100378
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