E L E

Andando por aquelas paragens, sentindo o peso do cântaro, senta-se embaixo de uma árvore e vê não muito longe dali uma aglomeração imensa que contrasta com o silêncio reinante.

Parece-lhe que até o vento e os pássaros estão a ouvir o que, ou a quem, aquelas pessoas ouvem.

A curiosidade torna-se mais forte que o cansaço e ela procurou um lugar para sentar mais próxima daquelas pessoas. Encontra uma pedra, senta-se e coloca ao lado o cântaro.

Passa a prestar atenção a tudo. As pessoas parecem humildes, algumas choram, outras contritas parecem orar; mas todas, sem tirar uma sequer, prestam enorme atenção a quem fala para aquela multidão.

O que será que ele diz, para todos ouvirem como se estivessem bebendo cada palavra?

Procura prestar atenção ao que ele diz, e ouve uma voz que mais parecia uma melodia. Por vezes tornava-se mais forte em outras era toda doçura. Exortava o amor, a paciência, o perdão e a fé.

Tenta por todos os meios ver quem fala, mas a massa humana não deixa muito espaço. Parece que todos querem estar mais perto dele cada vez mais.

Com cuidado ela se levanta e tenta ficar em pé equilibrada naquela pedra.

Ao olhar aquele rosto esquece o mundo ao seu redor. Mas o que vê?

Um homem vestido rusticamente, usando sandálias rústicas, cabelos cacheados a altura dos ombros partidos ao meio e uma barba curta. Possuía os olhos de castanho claro como mel, tão doce e penetrante que fazia com que todos baixassem a cabeça ao olhá-lo diretamente.

Ela estava como que hipnotizada esquecida de tudo e de todos, não conseguia se mover diante de tão bela personagem.

Não poderia precisar o tempo que passou ali o olhando e escutando-o. Mas agora nota que o sol já se pondo, fazendo o céu tomar uma cor avermelhada contratando com o azul do céu, a brisa que acompanhava a noite já começava a ser sentida.

De repente ele se levanta despedindo-se das pessoas com um sorriso que palavra nenhuma conseguiria descrever era doce, cativante, bondoso, celestial.

Ao passar por perto dela olhou-a, e aquele olhar deixou uma marca profunda em seu ser.

Quando ele desapareceu na estrada, ela pegou seu cântaro maquinalmente levando-o ao ombro. Quando passou perto de um senhor que caminhava puxando um burrinho perguntou quem era aquele homem que falava tão bonito. Respondeu o senhor, que era um Galileu que andava pelos arredores das cidades pregando o amor a um Deus único que chamava de Pai.

Como era seu nome? Disse ele: Senhora, chamam-no de Jesus.

Ela parou de andar, e lembrando aquele olhar maravilhoso, vagarosamente repetiu: Jesus, podem passar séculos, jamais te esquecerei.

Rosinha Barroso

24/05/2008