Desabafo de uma esponja

Talvez muitos de vocês não me conheçam, vou falar um pouco sobre mim.

Um dia desses em que tudo parece ser normal, acordei mais animada e logo deixei a água percorrer os meus poros, como era salgadinha, oxigenada e cheia de partículas saborosíssimas. Oh! Vida boa que é a vida de esponja.

Tão boa que nem precisamos sair por ai correndo atrás de do alimento, é só movimentar meus cílios que a água entra pelos meus poros, circula meu átrio, e como se fosse uma feira escolho o que quero comer e já devolvo a água pelo ósculo.

Mas, nesse dia, inesquecível, a movimentação de peixes e outros companheiros parecia anormal, era uma correria só, ai percebi que a moleza que eu tinha, contrapunha desvantagens, eu não podia correr, a uns quinze metros de mim, algo monstruoso que jamais tinha visto chocou-se violentamente nos recifes do sul, o poeirão cobriu os raios de Sol, mas, ainda vi muitos parentes agonizarem, peixes nadavam meio desnorteados, as anêmonas se fechavam em seus tentáculos, precisei parar o fluxo de água para não engolir o pó que vinha daquela região, mergulhei na escuridão, só escutava sons nunca antes ouvidos, havia movimentação intensa de seres estranhos na superfície, dormi enfim!

No dia seguinte o que vi foi aterrorizante, uma água escura de cheiro insuportável cobria a superfície, peixes asfixiavam, as águas vivas, todas manchadas de negro davam seus últimos suspiros, que coisa horrível.

Mais esse dia, talvez o último da minha vida, iniciei com dificuldade minha tarefa de filtrar a água, hoje o gosto estava nojento, lembra a morte, algumas partículas desconhecidas, até saborosas, foram capturadas por meus coanócitos e distribuídas célula a célula pelo meu corpo, uma sensação estranha tomava conta de mim, eu já estava me apagando, quando me veio a memória as conversas que rondavam, sobre um tal bicho homem, o único capaz de acabar com tudo, destruir, que sono acho que vou dormir...

Mazzuco
Enviado por Mazzuco em 25/05/2008
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