"Meu Amigo de 8 Anos" =Crônica do Cotidiano=

O filho de minha futura nora tem oito anos de idade e já é metido a gozador. Ontem, com cara de safado, ele me perguntou se era bom ser velhinho. Respondi que geralmente era, mas que tinha hora que não era. Ele logo perguntou que hora que não era legal ser velhinho e respondi que era quando vinha algum pentelho de oito anos fazendo perguntas cretinas. Com aquela carinha de safado simpático, rindo, ele quis saber se aquilo era com ele:

- Diretamente, meu caro neto postiço. Mais direto que isso só um murro no queixo.

Nós dois nos damos bem. Ele já percebeu meu jeito de brincar e sabe me provocar.

- Você não gosta mais de mim, vô pançudo?

- Gosto. Pensando bem, até que gosto, mas...

- Mas o quê?

- Prefiro frito e à milanesa. Fatiado, de preferência. Um amigo meu, índio, me disse que menino à passarinho, com vinagrete, é uma das boas coisas da culinária indígena. Qualquer dia desses vou experimentar. Deixa sua mãe distrair que você vai ver, xarope.

- Vô, eu tô na infância; o Érico tá na juventude; e você, velhinho desse jeito, como é que chama sua idade?

- Pode ser chamada de duas coisas: velhice ou velhicidade.

- Essa eu nunca ouvi antes. O que é velhicidade?

- É quando a gente está velhinho e tem a felicidade de não ter nenhum pentelhinho pra encher o saco da gente. Ou seja, velhicidade é quando sua mãe não te traz aqui.

Mudou de assunto depressa, em dúvida se eu falava ou não a sério.

- Posso usar o computador, vô?

- Pode.

- Então dá licença daí.

- Pra que?

- Pra usar o computador, ora...

- O meu?

- Claro.

- Então não pode. Pensei que era pra usar o seu.

- E eu por acaso tenho computador em sua casa?

- É..pensando bem...não tem. Então não tem jeito. Vai ficar sem usar.

- Deixa eu jogar um games, vô...

- Falando em games, pentelho, no meu tempo de menino eu era campeão mundial de games de computador.

- No seu tempo não existia nem eletricidade, quanto mais games...

- Depois dessa é que você não usa mesmo.

- Sai daí, vô..Daqui a pouco a mãe resolve ir embora e eu não joguei nada.

- Tudo bem, mas não...

- Já sei, já sei...não tira nada seu. Minimiza tudo, não é isso?

- É. Você prefere jogar no claro ou no escuro?

- No claro, é claro.

- Então vou apagar a luz do quarto.

- Depois o pentelho sou eu...

- Olha o atrevimento...Esqueceu quem é o dono do computador, pentelhinho?

- Vô, você é a pessoa que mais amo nesse mundo, mas agora me deixa jogar sossegado, por favor.

- Interesseiro do cacete...Puxa saco de avô...

Ele me olha, já com o fone nos ouvidos, me sorri e me desarma fácil. Coisa boa ter oito anos. Acho que até ainda me lembro...

Fernando Brandi
Enviado por Fernando Brandi em 25/05/2008
Código do texto: T1004844
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