Quem me dera não ter te escrito...

Quem me dera escrever algo bonito e sem fundamento. Quem me dera ser romântico, realista, ufanista ou inovador. Quem me dera...

E se eu escrevesse assim, numa madrugada fria de Maio, no meio da noite, sentado num banco de praça, isso seria romântico? Não, isso seria real... Quem me dera ter tudo que um escritor tem: burrice e inteligência, feiúra e beleza, medo e coragem... Enfim, nada mais faz sentido quando somos alvos da insipiente massa protetora do imoralismo. Somos frutos do ilícito... Quem me dera não ser assim!

E aí me pergunto: o que quero de mim hoje? Hoje, só uma dose de "mesma-coisa" e nada mais. Se eu tentar ir direto ao nível mutante de minhas palavras, estarei abrindo portas para me acusarem de louco por algo que nunca ousaram a ser - seremos algo? Se eu não o fizer, à quem estarei enganando nessa madrugada fria de Maio?

Considero-me perdido e longe das ondas que naufragam e enobrecem os corajosos e verdadeiros amantes escritores. Estou na praia no intuito de ficar, mas querendo deixar a areia e ir enfrentar mares "nunca antes navegados". Acho que não sei nadar...

Então, quem me dera desabafar tudo aquilo que mantenho em mim num só parágrafo, ou numa só linha - o tudo que cabe na parte do todo, ser humano. Quem me dera não ter escrito tudo que meu amor , ódio ou fraqueza me tem submetido e cercando-me de palavras soltas e livres no âmbito de minha paixão - dentro de mim!

Quem me dera poder ver além da praia onde eu estou.

Quem me dera deixar de ser aquilo que não sou...