Neurótica...

Desconfiava de tudo: dos olhares de todo mundo, de sorrisos despretensiosos, de gente aparentemente normal... Desconfiava até da morte de gente que não mostrava o corpo. Desconfiava autenticidade da sua sombra.. Pois bem, e por isso era angústia pura, já que não confiava em ninguém.

Eis que um dia esta criatura conheceu alguém. E como era característica sua, começou a desconfiar. Desconfiou do que sentia por ele, e do que ele mesmo sentia por ela. Desconfiava das suas flores despretensiosas naquelas tardes de surpresa. As ligações misteriorsa pra desejar um bom dia; os gestos, simples e puros de homem apaixonado.

De tanto desconfiar percebia que não conseguia se ater àquele relacionamento. Gostava, talvez amasse. Mas desconfiava. Até mesmod os silêncios. Se ele estava calado, significava que podia estar maquinando algo. e falava muito, parecia que não a deixava respirar.

Ele se transbordava e se desnudava cada vez mais, em busca da satisfação da neurótica. Mas nada poderia bastar, porque ela mesma não se bastava. Pois bem... leveram anos, tempos e ela, finalmente aceitou a aliança.

Chegaram a marcar data de casamento, fazer convites, organizar festa, convidar gente.. essas coisas que se faz quando SE TEM CERTEZA do que se quer. Mas ela não sabia. Queria a volúpia, o desejo, a arrebatação; quando o que mais sentia era calmaria. Segurança demais... isso é utópico - pensava.

A liança rodou no dedo. As mãos gelaram, como da última vez que se preenchera de sonhos e ao final eles lhe foram pelo ralo. Deixou-se levar pela insegurança e pôs fim à todas aquelas escondidas sentimentalidades. O olho penseu, e lá no fundo caiu uma lágrima calma, resignada. Sentia falta das borboletas na barriga... do enrolar do estômago, das mãos frias...