TEMPO DE DELICADEZA


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"...Sei que vão dizer: "A burocracia, o trânsito, os salários, a polícia, as injustiças, a corrupção e o governo não nos deixam ser delicados."
- E eu não sei?
Mas de novo vos digo: sejamos delicados. E, se necessário for, cruelmente delicados.
          Tempo de delicadeza (Affonso Romano de Sant'Anna)



    Na minha vida de educadora-professora e educadora-mãe tenho me deparado inúmeras vezes com questões ligadas a violência de todas as origens, desde as formas mais comentadas, como a do trânsito e a urbana, até as de forma simbólica, como o machismo, o bulling, todas as formas de preconceito e a violência doméstica, só para citar algumas.
    Levando em consideração minha índole e natureza tranquila, sempre me indignou toda e qualquer forma de violência e, mesmo quando vítima, jamais passou por meu coração e por minha alma nenhum sentimento ligado à "Lei de Talião".
    Ultimamente, tenho tentado ver, o "universo ao meu redor" com os olhos "de ver por dentro" e tenho me assustado e entristecido com a beligerância crescente entre as pessoas, com a intolerância explicita nas relações, em todos os níveis.
    Fico pasma, não consigo achar natural que colegas que dividem o mesmo espaço de trabalho que eu, que convivem comigo a tanto tempo, passem por mim e não me cumprimentem!
    Venho de um lugar em que bastava cruzar com alguém no caminho e um BOM DIA, BOA TARDE, BOA NOITE se fazia ouvir e nunca foi esforço algum, de minha parte, preservar esse hábito no mundo urbano. Inúmeras vezes não recebo resposta mas, não é a reação positiva ou negativa frente ás minhas atitudes que irá determinar o modo com conduzo minha vida. Ouso dizer que, a esta altura da vida, sou definitivamente, autora do meu falar, do meu agir, do meu sentir.
    Percebo também que muitas pessoas estão sempre prontas para o " bateu levou". Não que ache que devamos " oferecer a outra face", mas será que não haveria um modo mais "delicado " de conduzir um conflito, uma divergência de opinião? sem agredir o outro?
    Será que para reafirmarmos um entendimento, ratificarmos um posicionamento e/ou reivindicarmos algo importante pra nós, precisamos ser grosseiros, mal-educados, desprovidos de qualquer gentileza?
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    Tenho refletido questões dessa natureza, ultimamente. E reflito agora, enquanto circulo pelo INSTITUTO ISRAEL PINHEIRO, em BRASÍLIA, participando como delegada no Encontro Nacional Preparatório à VI CONFINTEA. Em que pese a coerência e a importância da programação e a beleza do lugar, estamos muito bem mas, no campo do convívio, temos muito ainda que aprender.
    Com uma média de 300 participantes de todos os estados brasileiros, me deparo com pessoas que defendem, com certeza, a mesma causa - o direito à educação para Jovens e Adultos - com as mesmas atitudes das pessoas que não aprenderam a grande lição do convívio civilizado. É claro que não estou generalizando mas, tratar O OUTRO como um estranho, um provável adversário ou um possível suspeito, me parece ser a tônica.
    As pessoas estão beligerantes, ríspidas. Olhares desconfiados se cruzam e se afastam, cumprimentos não encontram eco.Os silêncios falam por si.
   Diante disso, senti uma imensa necessidade de reler a belíssima TEMPO DE DELICADEZA de Affonso Romano de Sant'anna. Nomeei minha crônica assim para homenageá-lo. Sugiro que leiam-na. Me fez muito bem não me sentir tão anacrônica, tão dinossaura, no meu olhar para a humanidade.

Um abraço, Amigos e amigas!

Brasília, 29 de maio, de 2008.