Futuro


Eu gostaria de começar meu dia com um sorriso, dizendo BOM DIA! Mas, estive pensando a respeito dos meus textos.
Sempre que temos a caneta e o papel como nossos recursos de expressão, a responsabilidade aumenta. Seguimos o rumo das novas tecnologias e direi: teclado e tela plana. O resultado é o mesmo... Um indivíduo com ‘recursos de falar’.
Fiz um recorte da minha infância, com o texto "Engenho de Arroz". Tudo ali foi real, embora descrito sob um olhar lúdico e intencional, pois queria prendê-los às linhas de minha prosa...
A veracidade da escrita é tamanha, que as condições em que me encontrava, quando criança, devo lembrá-los, que estávamos em meados de 1970, não são tão diferentes da atualidade. Eu explico: Falei de pregos e tétano, de banho de arroio e trens, que nos remetem à idéia da falta de saneamento, de segurança... de saúde pública de qualidade... Enfim, do mínimo, de um mínimo, que deveria ser para um máximo comum.
Nessa época, eu ouvia dizer que as ‘crianças serão o futuro da nação’. Sempre fiquei atenta aos dizeres dos panfletinhos... Era pequena, não era burra! Aos oito, lembro-me de questionar, perguntando à minha Mãe, várias vezes, até a exaustão: O futuro não é agora?... Ela respondia: _ Não... Então, será daqui a um tempão?... _ Certo! É isso mesmo... Eu parei, contei nos dedos e disse: Eu vou ser grande!... _ É, grande e bonita, se comer direitinho...
Aquilo me deixou mais confusa... Grande não é criança. Como, então, as crianças serão o futuro, se estarão grandes. Encasquetada decidi: O homem do rádio não estava falando de mim... Eu sou uma mocinha!
Falei disso, porque, assisti, em uma emissora destas da vida, uma reportagem que estatisticamente provava que boa parte da população não tem saneamento básico. Como se isso fosse novidade, pra mim... Pulava valetas. Vejo as crianças felizes, quando tem enchente.
O que mais me deixou constrangida foi o menino falando em futuro, dos seus medos de ‘pegar’ doenças, do olhar, que era o meu a mais de vinte anos atrás...
As estatísticas comprovam que “a maioria da população negra não tem saneamento”. É óbvio, somos um país, politicamente correto de afro-descendentes... O que está em pauta não é a etnia e sim a falta de compromisso social. O que importa é que a falta de respeito chega a todas as casas, sem distinção. E, se por ventura, ‘a casa’ com infra-estrutura, é de um cidadão branco... Sorte dele, porque em minha casa não havia... Sou descendente de alemães, de espanhóis, de africanos e de índio...
Envergonha-me, que em pleno ano de 2008, eu ainda ouça as mesmas sandices que me perturbavam, quando criança!
E a ‘severina’, notem que, em meu texto, está em letra minúscula, nasceu minúscula , sem choro e sem voz... Tudo por culpa de uma sociedade que olha apenas para o próprio umbigo! Embora, ‘severina’ tenha sido registrada, fato que não chega a todas as casas brasileiras... Ela não tem voz, porque não tem acesso à escola, ‘não come direitinho’... Cidadã? Eu pergunto... Ou mais uma criança-número? (Daquelas que serão o combustível futuro, de um país–máquina...). E as ‘marias’ da vida existem... São o resultado de políticas mal-estruturadas, de discursos vazios...
Observei uma jovem, ontem, na rua, de mais ou menos 20 anos... Idade de faculdade, não de dois filhos pendurados... Isso não é nada... Existem outras bem mais jovens. O que aborrece é que não é por escolha, como as senhoras mais pudicas falam... É reflexo. Reflexo de um discurso de sexo seguro... Que de seguro não tem nada! Camisinha não é segurança, é uma obrigação!!!. Segurança é a responsabilidade... É ‘assegurar’ aos filhos, a ‘segurança física e emocional. Mas, como aprender isso, se alguns pregam a abstinência, o que a meu ver, é violência... Se outros pregam a informação por informação... Essa que vira estatística... Não gera conhecimento constituído e reforçado.
Vergonha! Hoje acordei assim. Por achar que o que eu fazia aos 11 anos, no centro paroquial, seria importante... Eu saia de casa, por volta das seis horas da noite, para auxiliar uma professora, nas aulas do MOBRAL... Aos doze, não pude mais ajudá-la, e, se eu quisesse estudar, teria de ser à noite... As séries finais, do antigo Primeiro Grau, para mim, eram noturnas... Por trabalhar aos quinze, em uma loja, e chegar a casa, meia-noite, cansada, depois de oito horas de trabalho e quatro, no curso noturno...
Existem idéias e discursos positivos, que poderão melhorar as mazelas atuais... Isso eu não posso negar... Mas, é o verbo que me incomoda... Eu não era o futuro... Eu sou o agora!