VIDA MUTANTE

Noites de sexta-feira e finais de semana é quando quase tudo acontece na nossa vida social.

Saídas com a pessoa amada, passeando de mãos dadas pela praia, uns bons “amassos” naqueles bancos de concreto espalhados ao longo da orla, alguns em locais bem propícios e convidativos.

Aí, pode vir um cineminha e depois um bom jantar, que até pode ser uma pizza de mussarela com aliche, com a borda não recheada, mas bem grossa. A Brahma bem gelada, altamente convidativa a que se tome mais uma. E depois aquele cigarrinho gostoso que parece complementar a refeição. E a gente se sente bem porque ninguém fica policiando aquela fumaça que sai da chaminé bucal ou nasal.

No domingo, após uma bela praia, uma gostosa caipirinha de pinga e um delicioso banho de mar, vai-se almoçar na casa dos pais, aliás, onde a maioria mora. Depois, o indefectível baile na casa de alguém da turma, onde rola o famoso coxa-a-coxa (delicioso).

No domingo, depois do bailinho, ainda vai-se à missa das 19:30 horas em alguma igreja próxima do local onde se realiza esse baile. Mesmo na casa de Deus todos sorriem e estão muito alegres e felizes.

Fim de domingo, todos pra casa. Um bom sono, que no dia seguinte tem batente, seja na escola ou na labuta. Cansados, mas felizes, com a saúde estourando de boa, os hormônios fazendo a festa e os planos e objetivos de vida empurrando pra frente.

Fim de semana que vem tem mais.

Saídas solitárias pela praia, procurando acelerar o passo para se conseguir manter a saúde em condições satisfatórias, sem a ocorrência de desgastes físicos. A pessoa passa pelos bancos de madeira envernizados, olha pra eles, até que se rende a um mais simpático e não resiste: senta-se para descansar um pouquinho, já que ninguém é de ferro ou aço. Olha o mar, olha para um lado, olha para o outro, vê que está desacompanhada, levanta-se e continua sua caminhada.

Chega na farmácia onde foi comprar um dos remédios que toma por recomendação médica. Às vezes ainda discute com o(a) balconista sem saber direito o motivo. Conclui que discute por discutir e acha-se uma perfeita idiota. Mesmo assim, sorri e acaba comendo um pastel de palmito com algum refrigerante “diet”, uma vez que o açúcar já não lhe cai bem.

No domingo acorda meio sem disposição, jornal do dia com as mesmas notícias de sempre; apenas o folheia e o larga sobre a mesa da cozinha. Televisão, nem pensar. Bons tempos em que ainda havia Ayrton Senna para distrair um pouco esses domingos.

Vem uma recordação boa: os bailinhos dos domingos, o coxa-a-coxa, o rosto coladinho no outro rosto, saracoteando pra lá e pra cá. Coisa boa!

Ah, mas a missa das 19:30 horas continua, sempre na mesma igreja e, via de regra, o indivíduo sozinho. Não sorri, mas é capaz de se emocionar com algumas atitudes que presencia, e até com as palavras do padre que celebra a missa. Hoje já tem os seus celebrantes prediletos e adora quando é algum deles que se apresenta para fazer o seu trabalho dominical. Até colabora com o dízimo e comunga.

Sai da missa e toma o caminho de casa a pensar em como a vida passou e, muitas vezes, nem percebeu que isso acontecia. Quando se deu conta, já havia passado muito tempo.

Acho que já perceberam que, nas duas historinhas, o personagem é o mesmo, ou seja, eu. Claro que o que contei acima é ínfimo em relação a toda uma vida, mas acredito resumir bem a trajetória da maioria das pessoas.

Quis mostrar apenas o quanto nossa vida se transforma em função do tempo, o quanto ela é mutante e o quanto devemos respeitá-la e aproveitá-la enquanto queremos e podemos. É por isso, analisando meu presente, que me transporto a um passado longínquo para fazer de meu presente um passado recente e ter gosto pelo futuro.

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Arnaldo Agria Huss
Enviado por Arnaldo Agria Huss em 01/06/2008
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