O diabo e Adélia Prado

Eu acho que a Bíblia poderia ser mais atraente. Já gostei muito de ler o livro dos livros, mas hoje em dia já não tenho muito saco. Há livros que merecem alguma atenção, têm bons conselhos, daqueles que a gente se toca e pensa: "nossa, isso é verdade", ou então que serve para julgar alguém próximo a nós. A Bíblia serve pra tudo, até mesmo para justificação de um cachaceiro.

Bem, como não ando com saco para ler sobre milagres, lições de moral, um Jesus que exige que fariseus e homens da época o aceitem como filho do homem, se auto-promovendo, ditando orações sacerdotais para seus discípulos publicarem nos livros, conversas particulares com governantes e outras coisas mais é que tenho dado mais atenção a leituras santas e sãs. Por exemplo: Adélia Prado. A coroa escreve sobre coisas que fazem parte de nossas vidas, relata sensações e intimidades que cada um de nós já pôde experimentar, mesmo se eu levar em conta uma diferença de pelo menos quarenta anos entre nós. Textos da Adélia deveriam estar na Bíblia.

Falo de Adélia como poderia falar de qualquer outro escritor ou poeta. Alguns livros da Bíblia são muito chatos e incoerentes, e pastores e padres perceberam isso: mudaram o discurso para algo próximo a uma filosofia de prosperidade, de entretenimento, de auto-ajuda. Jesus é um acessório, para manter aquele tchan de superioridade sobre as outras religiões, até mesmo dizendo sobre a salvação eterna. Neste ponto entra o diabo. Mesmo se falamos de um grupo de auto-ajuda que usa a figura de Jesus, temos também que falar no beiçudo, no tranqueira, no encardido. Se não fosse ele algumas igrejas por aí estariam vazias. O diabo quer a pobreza, quer a depressão, quer a gravidez indesejada... e por aí vai.

Daqui a pouco vou para casa. Tomarei um banho bem gostoso e farei meu devocional noturno. Pretendo hoje ler alguns versículos do evangelho segundo Machado de Assis, e talvez um Salmo escrito por Rubem Alves. A Bíblia anda muito chata.