"DUAS CARAS"- Da série "Eu Não Sou Noveleiro Não"

Sentirei saudades da novela que acaba de acabar. Era legal assistir todos os dias da semana, inclusive aos sábados, a coleção de absurdos que aconteciam naquela favela-modelo de favela-modelo. E fora dela também.

A Portelinha, a melhor, mais segura, mais espetacular e confortável favela do mundo, dava tanto lucro ao Juvenal Antena que a única coisa que ele precisava fazer era dar audiências diárias e, de vez em quando, apenas de vez em quando, enviar seus “anões” para alguma missão especial. Pouco trabalho para quem morava em uma casa grande e dotada de todo o conforto. Sem contar as grandes quantias que tinha sempre à mão e à sua inteira disposição a qualquer hora do dia (toda a grana bem guardada em uma gavetinha que tinha uma chavinha que ficava com a Guiguizinha...)

Dotada de tanta segurança, a Portelinha tinha, no entanto, um lugar amaldiçoado, escuro, no meio do mato, por onde as mulheres eram obrigadas a passar para que o Sufocador as pegasse. Homem não precisava passar por ali a não ser para socorrer as atacadas pelo “monstro”.

O Macieira, reitor da tal Universidade Pessoa de Morais, comprava suas roupas no mesmo lugar que o Agostinho da “Grande Família”. Os dois personagens eram iguais no “bom gosto” e na “elegância”, mas o Macieira ganhava disparado graças à coleção de óculos com armações afrescalhadamente coloridas e às suas camisas que pareciam feitas de pano para colchão vagabundo. Sem contar o conjunto camisa-gravata-paletó-tênis-óculos vermelhos (ou amarelos, azuis, roxos, lilases, verdes, prata, etc.)

A Alzira preocupava-me muito mais com a vida, a saúde, e o bem-estar do ex-marido vagabundo do que muitas mulheres bem casadas com seus bons companheiros. Sua alegação, emocionante, era : “ele é o pai dos meus filhos”.

A Lenir nunca, nem por um segundo, esteve fora da casa dos Barreto. Agüentar uma pessoa de fora em sua casa vinte e quatro horas por dia? Nem em novela. Exagerou exageradamente o autor.

Zé da Feira, o cantor e compositor, ex-alcoólatra, sem inspiração, conseguiu voltar a escrever seus sambas depois que Juvenal Antena o acorrentou. O que me leva a crer que se o deixassem nas mãos da Sílvia Calabresi Lima, a torturadora de empregadinhas, ele teria composto óperas, blues, jazz, tangos, boleros, mazurcas, chorinhos, bossa nova, musicais para a Metro e até algumas trilhas sonoras para Hollywood.

As brigas da Branca e Célia Mara em plena universidade eram de uma baixaria absurda, descabida em qualquer circunstância, ainda mais em um local de ensino. Por pouco a Universidade Pessoa de Morais não recebeu o nome mais apropriado: Universidade Pessoas Imorais.

O tal mocinho afro-descendente-rico que se fazia de pobre escondia seu poder aquisitivo guardando o carrão de alto luxo bem longe, longe demais, impossível de ser descoberto: em um estacionamento na universidade ou próximo a ela. Como é que a mocinha conseguiu descobrir que ele era rico??? Era quase impossível...

O machão que se fazia de homossexual para dirigir seu estabelecimento de diversão foi demais. Demais da conta a argumentação dele para a mulher: ser gay dá status. Vá fazer propaganda da veadagem assim lá na p.q.p!!

Juvenal Antena queria uma favela harmoniosa, segura, boa para o seu povo viver, com todos os recursos para a saúde e educação. Um desejo louvável. Esquisito foi ele começar sua campanha para vereador espalhando cartazes em que aparecia com uma bazuca nas mãos. Paz e amor demais o cara...Sem contar que após a verdadeira guerra acontecida dentro da Portelinha, até com tiro de bazuca, não apareceu polícia, ninguém precisou explicar nada, ninguém teve que prestar depoimento, como se tudo tivesse acontecido em um país à parte. Vai ver era mesmo. Sem contar que....

Epa, epa, epa, epa, epa, epa, epa, esse artigo está ficando justamente comprido demais. Vou parar por aqui.

Fernando Brandi
Enviado por Fernando Brandi em 03/06/2008
Código do texto: T1018431
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