Paranóia ortográfica

Às vezes fico pensando se não estou me tornando chato ou tendo uma crise de paranóia ortográfica. Porém é impossível ler uma publicidade feita pelo governo que além de todos os erros que já cometeu, ainda trata com pouco caso às leis ortográficas oficiais. No momento em que publicou “a evolução dos programas de complementação de renda no Brasil” mostrou também que na sua grafia houve uma pequena “involução” quando a hifenização foi esquecida. Nas duas páginas de propaganda veiculadas em algumas revistas, encontram-se seis substantivos compostos sem o hífen: Auxílio Gás, *Vale Gás, *Bolsa Escola, *Bolsa Alimentação, *Cartão Alimentação e * Bolsa Família. Mesmo assim, muitos órgãos de imprensa levaram em conta as convenções ortográficas, escrevendo de maneira correta.

Auxílio-Gás

Vale-Gás

Bolsa-Escola

Bolsa-Alimentação

Cartão-Alimentação

Bolsa-Família.

Em português “a nossa língua” os substantivos, como regra, não são usados lado a lado sem alguma forma de conexão. Não se diz “Aquela bolsa couro é bonita”, mas “Aquela bolsa de couro é bonita”.

Os substantivos se associam ou por meio de preposição ou de hífen. bolsa é substantivo, família também. Como não se fala em Bolsa da Família, Bolsa para Família, deve-se empregar o traço-de-união no lugar da preposição: Bolsa-Família.

Esse raciocínio deve ser estendido a vários outros casos de uso freqüente hoje em dia:

vale para gás = vale-gás

vale para transporte = vale-transporte

auxílio para maternidade = auxílio-maternidade

auxílio para funeral = auxílio-funeral

auxílio para refeição = auxílio-refauxílio pelo desemprego = auxílio-desemprego

auxílio por doença = auxílio-doença

licença por/como prêmio = licença-prêmio

licença pela paternidade = licença-paternidade

cartão para alimentação = cartão-alimentação

tíquete para alimentação = tíquete-alimentação

bolsa para alimentação = bolsa-alimentação

bolsa para escola = bolsa-escola

seguro por desemprego = seguro-desemprego

salário por/para a família = salário-família

salário por hora = salário-hora

custo por hora = custo-hora

hora de aula = hora-aula.

São raros os casos de dois substantivos que se associam sem a intervenção do hífen, o que constitui uma exceção à regra. Isso só acontece quando o segundo substantivo faz as vezes de adjetivo. Por exemplo: efeito cascata = efeito cascateante; carro esporte = carro esportivo (não se trata de carro e esporte ao mesmo tempo, nem de carro para esporte).

"Hora extra" também não tem hífen, porque "extra" é adjetivo, redução de “extraordinário” (plural: horas extras).

Não quero aqui culpar o presidente LULA por isso, até porque ele é semi-analfabeto. Porém, acho que com tantos “aspones” engravatados no Palácio, deve ter pelo menos uma meia dúzia que saibam ler e escrever a nossa língua. Eu cometo erros de português, às vezes por falta de atenção ou até por não ter um conhecimento profundo da língua. Porém, procuro sempre me atualizar, pesquisar, estudar e não publico textos oficiais.

Regras como essa da associação dos substantivos, aprendi no grupo escolar. Será que estou ficando rabugento?

(psiuuu... cá entre nós, a forma mais fácil de aprender é ensinar)

Vincent Benedicto
Enviado por Vincent Benedicto em 21/01/2006
Reeditado em 21/01/2006
Código do texto: T101844