A Bisavó

A Bisavó

Que guriazinha! Que imaginação aos três anos! Cheia de cachos louros,pequena, e já com um grande amor pelos seus, pela família.Assim era Nicole ,que tinha duas avós, a avó Diamantina que ela dizia ser ''rica em ovos e galinhas(tinha um galinheiro)'' e a avó Iaia, uma morena lindíssima e sensual em cuja casa passava muitas tardes entre risos e brincadeiras com as tias ou simplesmente escutando estórias. À tarde na hora que o pai o ''Zão'' a vinha buscar, vó Iaia, desenhava bonecas para acalmar e a entregar serena para o pai.

Tinha, também...Ah, fascínio, sedução! A bisavó Cuca, uma senhora imponente , alta, de voz grossa e grandes tranças negras.Meia índia,meia gaúcha pêlo duro,ganhou este apelido porque vivia às voltas na cozinha fazendo cucas deliciosas ,que distribuía para os amigos. A Cuca, para Nicole, era um feitiço! E foi então que ela inventou em sua mente já fértil e criativa, a'' Dança da Cuca''. Uma dança que ela podia dançar só ou com a Cuca, vestida com seu xale e seus chinelos, além de um chapéuzinho de tricot, da Cuca, é claro. Enquanto dançava, em uma coreografia própria e cheia de estilo, encanto e graça, fazia os mais estranhos pedidos,presentes, que se concretizavam, era, então, uma espécie de Feitiço. A voz de Nicole ficava rouca e grossa quando anunciava nas festas familiares:

- ''A Dança da Cuca!''

E iniciava uma dança muito alegre, o passo no compasso da música e frenéticamente girava, rodopiava, fazia arabescos e cantava seus pedidos de presentes. Ao final descansava no colo daquela imponente figura a bisavó a perguntar:

- Será que esta dança vai funcionar para ganhar este presente, vó Cuca?

Os presentes que pedia durante a dança eram provavelmente comprados pela vó Cuca, mas com todo sigilo.Apareciam à frente de sua porta pela manhã. Seus outros desejos, como o que a tia favorita não casasse, deles, o destino se encarregou...

Já naquela época, aos três anos, Nicole mostrava a criatividade que a caracterizou sempre e, não houvesse levado o corte injusto da vida que levou a pergunta é:

_ Onde estaria hoje?

Reflexões de uma Mulher

Sexta feira, primeiro de fevereiro de 2008

Não é à toa que eu lembrei a Dona Cuca ou Castorina e a dança, então risonha, que eu fazia na infância. É minha convivência com a morte,e a morte do meu pai que imponente como ela e afetivo, sofre de mal incurável há dez anos.Faz me lembrar a morte dela,no leito com fratura de fêmur.

A figura da morte é que me assusta, é como um túnel escuro onde se mergulha, não há resgate, e naquele instante em que a vida se desprende temo, talvez, medo de ir junto...atração , em saber o que há depois...ir junto com os que amo...no mais a morte é liberdade.

Suzana Heemann

Suzana da Cunha Heemann
Enviado por Suzana da Cunha Heemann em 04/06/2008
Reeditado em 28/06/2008
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