O ILUMINADO

O ILUMINADO

Quando eu digo que alguém é muito correto, só quero dizer que esse alguém está enquadrado aos padrões que eu conheço como certos até o momento. Se eu me questionar o que é o correto, estou refletindo , fazendo um reflexo subjetivo sobre algo, espelhando algo dentro de mim para uma descrição mais nítida do que representa aquele vocábulo dentro do meu pensamento. Esses atos de reflexão interiores são atos de filosofar, atitudes filosóficas. Essa atitude que faz desenvolver o pensamento e a postura crítica diz não às crenças aos preconceitos e a tudo que está pré-estabelecido em nossas vidas. Quando nos detemos a examinar um signo qualquer e desencadeamos linhas de pensamento que se disseminam indefinidamente, estamos filosofando. Filosofar é recriar, apreender e ter percepção de que não sabemos quase nada do que imaginamos saber. O grego Socrates patrono da filosofia nos legou, entre toda a sua sapiência a celebre frase: “Sei que nada sei”. E é assim, a filosofia não permite que o mundo permaneça igual. Por vezes o senso comum não nos deixa ver que a ciência e a tecnologia, na busca de serem conhecimentos verdadeiros, usam um procedimento minucioso de pensamento. A ciência e a tecnologia pensam, pensam antes de produzir. Para Platão a filosofia começava com a admiração, para Aristóteles a filosofia começava com o espanto. Atualmente estamos vivendo uma situação constante de admiração e espanto, pelo rumo da política, da violência, do descaso com a saúde e com a educação.

A atitude de admirar-se, espantar-se, de indagar-se está intrínseca no ser humano, em todo ele , não é apenas um privilégio de intelectuais. Qual o motivo, a razão e a causa de tudo que imaginamos e vivemos precisam ser organizado no pensamento de cada um de nós em detrimento de uma vida melhor para todos.Vamos pensar um pouco, imaginar muitos cérebros pensando, uma sala de aula, um pequeno núcleo que “a priori” deveria sentir-se com a obrigação de trabalhar em todos os momentos a indagação e a experiência contida no exemplo de tudo que é apresentado.

O nosso aluno está fazendo isso ou está em sala de aula para cumprir um programa diversificado que inclui matérias desconsideradas como pré-requisitos, até mesmo pelos próprios professores? O nosso professor reflete o conteúdo didático em seu interior antes de expô-lo para os alunos, como fatos consumados ou como questões a ser trabalhadas?

O diletantismo é exercido por alunos e professores?

O professor é um iluminado, tem que ser um iluminado, ou não é professor. O iluminado recebe luz e a repassa , manifesta a iluminação. Professor não é a luz própria, não é sol, porque não tem claridade absoluta, mas é lua clareando os caminhos escuros do desconhecimento, o iluminado manifesta sua iluminação, aclara, abre espaços, e é aí que o aluno entra para trabalhar, para crescer sobre o luar acrescendo seu próprio brilho. Entre professor e aluno, a dialética sem excessivo emprego de sutilezas deve encaminhar docentes e discentes a teses e antíteses que darão seguimento a sínteses sempre abertas a revisão. Agora, retomando o vocábulo”correto”, como base de nosso minúsculo campo de pesquisa, vamos filosofar mais um pouco sobre o que é correto?

É correto ignorarmos as oportunidades disponíveis de “apreender” pensamentos que se apresentam diariamente, como é o caso de quem freqüenta uma escola? Nos primórdios da civilização, freqüentar uma escola era privilégio de uma elite, com a banalização da oportunidade de freqüentar escola parece que os valores do conhecimento em certas áreas ficaram estranhamente obsoletos.Conhecimento para alguns não engloba o saber sobre si mesmo, de dentro para fora e a idéia de participar está mais restrita ao individual. Participar de um a palestra ou de um trabalho em grupo para muitos é garantir certificado.Vivemos um momento que muitos alunos propõem-se a freqüentar cursos, cuja maioria das matérias considera dispensáveis, com propósito exclusivo de aproveitar apenas os pré-requisitos.

E o pior, os próprios professores das tais matérias que não são consideradas pré-requisitos começam a agir como se realmente fossem dispensáveis, aliados a idéia de que seus parcos proventos permitem omissão de cobranças maiores do que lhes são concedidas pelos alunos. E mais um fragmento de luz que poderia gerar na clareira se esvai. E é isso que uma escola é uma clareira, onde pessoas reúnem-se para decidir o rumo correto a seguir. Quanto mais caminha a humanidade, mais tempo permanece dentro da sala de aula para graduar-se. Universidade, especialização, pós, doutorando... Um universo de pessoas folhando livros, percorrendo a internet, buscando saber a disciplina que lhe é cobrada sem se cobrar a chance de reformular suas próprias idéias sobre o mundo que deseja viver. Frequentemente, afirmamos que o caos da violência urbana, a inaptidão do educador, a imperícia na política e o desapreço pela saúde não nos causa mais espanto,ora, se isso é rotina não quer dizer que está correto. Precisamos pensar, repensar valores. “É melhor fazer pouco e bem, do que muito e mal” (Sócrates- 399 a.C) .

Que seja exigida iluminação para os que se propõem a refletir cada segundo de aperfeiçoamento de sua existência. Que seja exigida reflexão de pensamento e de atitude a todos os que se propõem a seguir um caminho iluminado.

JOYCE RABASSA

joyce rabassa
Enviado por joyce rabassa em 05/06/2008
Código do texto: T1020130