Os Editores ou Reflexões de uma Mulher

Reflexões de uma Mulher e os Editores

Meu romance com o editor estrangeiro foi breve,algo "en passant" pela vida . Percebi que ele queria explorar o drama que me atormentou e acabei retornando para Riocomprido. Sorri, irônica, da ajuda que as amigas me quiseram prestar com sua sabedoria ,me apresentando este homem. Aceitei, no momento, mais para as satisfazer em seus bons propósitos por ele,não por mim. Sabia que não ia durar, sabia que não ia ser uma relação madura, estável e duradoura. O que mais me atraiu foi sua profissão. Confesso, desajeitada, pois sei lá porque ,tenho uma caída por editores,mas ótimos editores,aqueles que leêm em minúcia toda tua obra.Esta exigência porque tais personagens(editores) não existem mais hoje em dia, chega a me chatear. Devo ter alguma fantasia que um deles vai gostar muitíssimo destes meus escritos e os publicar.

Nosso apartamento em Rochas Salgadas foi vendido, porém alguma coisa lá se esconde , algum mistério passado que eu desconheço.Perder,deixando Rochas Salgadas não perdi muito,carecia daquela simplicidade que as praias devem ter. Deixei lá a Emily,minha boneca de trapos, e todos os verões de minha juventude, além das recordações da infância que a boneca carrega consigo mas que eu pude conservar escrevendo neste caderno.

Retorno para Riocomprido com a ilusão ainda de voltar ao exterior. Acabei entregando o primeiro volume de meu romance para um editor daqui, um cara sem grandes brilhos, desesperançada que o aceitasse ,quanto mais o compreendesse. E foi o que aconteceu.

Estive mal após entregar a primeira parte destes escritos, pois para mim dizem muito, dizem tudo. Aquele vazio famoso de que os escritores falam ao ver uma obra terminada me invadiu. De repente, achei que tinha escrito bobagens, nada de útil.Dei o primeiro passo, procurei um editor,precisava de alguém com sensibilidade para compreender a primeira parte do romance, porém ele não entendeu o que leu, pois comentou:

- É, é uma mulher contando uma vida sofrida .

E não é isto. Existe toda uma civilização rodeando esta mulher. Ela está inserida em uma sociedade, em um contexto social. Existem pequenos romances, pedaços de vida dentro do manuscrito que, somados, fazem a totalidade do livro. Portanto, não é algo autobiográfico. Fiquei chateada com este comentário pobre. Mas, afinal, onde estão os grandes editores hoje em dia? Eles existem? Se existem não os encontrei. O que encontro é um ou outro fulaninho querendo ganhar dinheiro a ponto de qualquer garota bonita escrever um livro cheio de fotos e com alguns dizeres e este, pimba, é publicado! Vou continuar. Ele não vai me fazer esmorecer ou desistir ainda mais depois de ter sabido que ele é um escritor frustrado.Acerto no próximo editor!Ou,quem sabe,ele acerta em mim?

Suzana Heemann

Suzana da Cunha Heemann
Enviado por Suzana da Cunha Heemann em 05/06/2008
Reeditado em 28/06/2008
Código do texto: T1020503
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