Eu e minha Capitu

Estou fascinado com Capitu. A Capitu de quatorze anos, pela qual Bentinho é apaixonado. Lembro-me de minha Capitu. Eu já tive uma. Não sei descrever seus olhos, apesar de tê-los por únicos até hoje. Seu sorriso era tão encantador que só me doía. Queria somente para mim. Às vezes penso ter sido necessário tê-la possuído, em outras penso que foi uma tragédia marcante, um trauma que me acompanhará eternamente. Capitu não morre nunca.

Mas o que a Capitu tem de belo é aquela forma dissimulada de encarar os fatos. Onde as nossas bocas fecham elas salvam a situação; são megeras amorosas, capazes de dar um fim em histórias quase perdidas. Quero a Capitu de quatorze anos, a que não nos causa selvageria.

Ria a cada letra de Machado, descrevendo os sentimentos de Bentinho. Será que para mim o melhor teria sido as lembranças da Capitu de quatorze? Queria ter conhecido-a somente assim, das sensações e dos trêmulos nos braços.

Por que teve que ser assim?

Eu estava ali nas páginas de Machado. Eu era Bentinho. Todo Bentinho é igual quando chega aos trinta e olha para trás. Tudo é eterno, desde a dor ao sabor de um tempo que passou, feliz e cruel.

Benito Cecá
Enviado por Benito Cecá em 05/06/2008
Código do texto: T1020757