Mulheres e Fofocas à Beira Mar

Fofocas á Beira Mar

- Nicole anda perguntando se pertences a outra galáxia- diz Amanda , enquanto arruma a cadeirinha de praia , pensando que bem poderia ser, pois nenhuma delas teve a sensibilidade exibida pela Sílvia para compreender a Nicole.

- O que??- e Sílvia desajeita, derrama com um movimento brusco o copo de coca -cola.

- É isto mesmo Silvia e, afinal, porque te alteras sempre que o assunto é Nicole? Nós todas não damos mais importância ao fato que ficou enterrado no passado,tu sempre lembras. Tu não agiste assim como nós e até Nicole estranha.

- Quem te contou esta história? Parece que hoje em dia tomar uma atitude bondosa, já é vista como se a gente fosse um E.T- diz Silvia se recompondo- e , falar nisto lá vem teu namorado , e eu vou embora.

- Que pressa é esta?

- Não é pressa,Amanda , é minha hora de malhar.

- Ah, espera um pouco! Deixa que te conte de onde veio esta história. Já deves suspeitar. Foi a Beth quem me falou: parece que a empregada é amiga da cabocla que trabalha lá na Nicole. Foi a cabocla quem assoprou: - As conhecidas da D. Nicole foram boas , a ponto dela estranhar, e dizer que uma delas, e só pode ser tu, deve ser extra terrena porque intuiu sua situação.

Imagina, Sílvia! Fomos todas chamadas de mulheres más, mesquinhas,egoístas,submissas aos maridos e tu de extra terrena. A Nicole deve estar louqueando. O que ela quer? Eu gasto meu tempo com meu filho, negócios e namorados. A Beth, a Vera e a Letícia também só querem saber do que é agradável,enquanto a Nathalie bate fotos. Porque temos que ajudar a Nicole?Além do mais já a ajudamos nunca comentando ou querendo saber do assunto que a atingiu e que nos é profundamente desagradável também. Nem a família a ajuda!

-- Aguarda ainda um pouquinho, Sílvia Simone! - continua Amanda, tentando agarrar Sílvia que se desprende com um sorriso ,pegando seus pertences e desconhecendo o assunto enquanto toma a direção do chalet.

Um homem emerge das águas neste momento, um homem de corpo bronzeado, risonho, cabelos já prateados , se encaminha para Amanda e a distrai do cotidiano que ocorre na praia. Jacques, o novo amante de Amanda estica o corpo ao seu lado e dorme à sombra do guarda-sol ,para prazer de Amanda que o contempla satisfeita. Amanda tem tudo que sempre desejou na vida neste momento. O filho está encaminhado , o dinheiro é suficiente pois quando se sente só viaja, e geralmente traz um estrangeiro que conhece e de quem fica amiga. Depois a relação corre seis meses ou um ano .É tempo suficiente para os dois, pois gosta somente do período de paixão e quando passa a fase de encanto, enamoramento , geralmente abandona os parceiros. Não acredita nem investe em uma amizade ou uma relação mais duradoura. Está cônscia de que quer levar a vida de uma maneira superficial. Não quer sofrer e não sofre pois evita sentir profundamente ,como também deixa de lado as pessoas que o fazem. Não tem gurus ,chefes ou líderes espirituais ,não se importa com religião , muito menos com os seus mandamentos. Ela é só ela e sua relação com o dinheiro, valor este que cultiva e acredita. Pensa seriamente em deixar de lado a amizade com Sílvia pela ajuda que quer prestar à Nicole.Isto é complicado! Percebeu algo mais profundo nela que se traduziu no chá de cerveja quando presenteou a Nicole. Amanda não quer aprofundar relações, sequer dar algum afeto, respeita as amigas mas não participa ou as ajuda .Seja narcisismo mesquinharia ou o que for. Não importa!Pois então ela é mesquinha e egoísta! E daí? Pelo menos assume o lado ruim .Não quer dar de anjo, ou amiga bondosa. Acha mesmo um papel ridículo e quer viver como uma fútil assumida , pode ser, mas uma fútil, e só se preocupa com o verniz doravante. Já havia pago seu quinhão de sofrimento com a morte do marido, do grande companheiro e homem que amava. Caso resolva voltar a ser o que era no passado, aí então avisa a Sílvia e se interessa pela Nicole. O momento é do Jacques e o corpo bronzeado, atirado ,indolente ,metido no calção da moda,isto é o que a interessa. Escorrega o pé em cima do parceiro, antecipando o prazer de estarem juntos após o almoço e fecha os olhos ,satisfeita com suas decisões.

Letícia , cinco guarda sóis a frente observa tudo o que se passa com Amanda. Teme que ela perca o controle. Chega a imaginar os dois tendo relações na praia em frente de todos. Excita se com os pensamentos. Molha o biquíni com o desejo, e vai rápida ao mar mergulhar. Recupera o contrôle ,desgostosa. Incomoda se quando o perde, tem medo de não se dominar Acontece na cama com o próprio marido. Ela mesma não se permite uma entrega. Sabe. O marido também sabe. Acha que todos sabem na praia e a consideram bela e frígida. Mexe se inquieta, na cadeira. Sacode a cabeça,afasta os pensamentos e controla a dor e a humilhação que teimam em a atormentar. Levanta e vai ao encontro de Jessica ,Beth e Natalie, mas as três entretidas com as últimas fofocas não lhe dão atenção. Quer sentar e fofocar também ,mas acha feio falar da vida alheia, não consegue se divertir , ou sorrir com isto e permanece rígida , endurecida. Sente se dentro de uma carapaça sem poder provar as emoções. O medo sobe. Letícia sente medo até de gostar de estar na praia. Lembra de se controlar , e se enregela para o meio ambiente. Súbito, quer comprar um picolé ,mas está fora de hora, pode engordar, e começa a ruminar os pensamentos, a duvidar se vai ou não ao encontro do sorveteiro. Quer gritar, porém está presa sem prisão, o que é pior. Letícia não consegue nada e se deixa ficar bronzeando pelo sol, até que um dos filhos a vem buscar pela mão.

Nicole vem passando . Caminha bastante para manter a forma. Vê as amigas na praia .Conta: quatro. Falta Sílvia. Algo ocorreu, pensa. Sílvia adora ficar ao sol de papo e nunca sai a esta hora. Sente se muito só andando na areia. A presença de Sílvia,mesmo longe , sempre lhe traz algum conforto ,não sabe porque. Soube no dia do chá quando começou a conhecê- la mais profundamente e percebeu sua solidariedade.Nicole está curiosa e não nega .Algo lhe diz que aquela mulher é diferente das outras. O comportamento dela não é igual,intui as situações da vida com uma extrema facilidade ,parece saber o que falta na vida e na pessoa de cada uma delas. Chegou a se sentir mal no Chalet porque notou a outra falar sobre sua solidão,assunto que sempre procurou manter afastado do convívio social , nunca se referindo ao fato. O assunto,no entanto, foi tratado com toda a naturalidade e uma solução foi apontada. Não sabe sair desta agora!Uma delas era voltar ao grupo da praia,se ressocializar.Chega a pensar em se aproximar das outras,mas a Sílvia não está e ela segue adiante. Acostumou se a viver só, a escrever. Não publica,não quer leitores na sua vida. Tem vergonha, medo, terror , culpa ,ódio ,inveja e amor por seus livros e, sobretudo não os quer dar a leitores que,no seu parecer não compreenderiam.Especialmente esses de Rochas Salgadas e Riocomprido. Os livros são seus filhos ,seus amigos, seus amantes ,pais ,irmãos , rivais , enfim tudo o que pode fazer falta em sua vida. Ela substituiu, sabia. Como dar? Como publicar e dividir com os outros? Resolve não tocar ou pensar mais no assunto .

Afinal,o que não tem solução,solucionado está, como diz a voz da razão. Pisa em uma pedra e o pé sangra. Pensa que escolheu o caminho das pedras ao invés de andar pela areia que é mais fácil e não machuca:

-. O caminho das pedras, e o caminho da areia murmura, deve haver um terceiro ,um outro caminho que me agrade , o caminho do mar, e posso mudar ainda ,posso optar por caminhos mais fáceis na vida. E pelo caminho que eu escolher eu levo junto minha vida e minha mochila de recordações. Olha em torno, começa a ver tudo alegre ,se astranha.

Vai descansar no quarto com a boneca da criança que recordava sua alegre infância, em meio aos poemas inacabados,aos livros embolorados, aos romances rasgados e aos seus amores frustrados .Tudo está escuro, quieto e solitário. Nicole se recupera.Assustou se ao sentir uma onda de alegria quando estava na praia, e está desacostumada deste sentimento, precisa se adaptar ao novo ambiente que lhe é mostrado,apontado.O medo do desconhecido é o que a impede de dar estes passos no momento,mas está segura de vencer.

No ambiente conhecido do quarto fica tranqüila,acompanhada pela velha solidão e a conhecida nostalgia... Lembra as amigas e acredita que não perdeu muito ao ficar longe delas e suas fofocas,e começa a escrever e a serenidade vem e se instala dentro dela.Quem sabe não é mesmo uma escritora?

Suzana Heemann

Suzana da Cunha Heemann
Enviado por Suzana da Cunha Heemann em 06/06/2008
Reeditado em 28/06/2008
Código do texto: T1021980
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