A comunidade e a televisão

A cidade e as duas fábricas engoliram a comunidade. Ali naquela comunidade plantávamos de tudo e as colheitas eram abundantes, criávamos de tudo e os excedentes eram vendidos na cidade, tínhamos variedades de carnes inclusive peixes ali daquele belíssimo açude! Uma antiga estrada margeava de ponta a ponta o açude e do primeiro sítio que era do Zé Miranda até o último que era do Antonho Inhaninho você contava uma seqüência com mais de “cem” sítios emendados era uma seqüência de porteiras, mas era divertido!

Fechava lá no final com a famosa fazenda da estiva, famosa pelo belíssimo pomar e o enorme porão onde a gente viajava no tempo com as histórias contadas pelos descendentes de escravos. Ali naquela fazenda começa a Lagoa Verde! Tudo corria normalmente até que o primeiro aventureiro o Fazinho Sicundino, que vendeu o seu sítio e comprou uma casa na cidade e foi viver de pequenos negócios e estudar seus filhos. Pronto! Estava dado o chute inicial, quando a comunidade viu que o Fazinho Sicundino se deu bem pôs fim àquela vida estável e prazerosa daquela comunidade! A seguir outro aventureiro, o vendeiro Zé Garcia vendeu o sítio, comprou uma casa na cidade, abriu uma venda e formou seu filho! A seguir chega o Geraldinho do compadre Zué de férias e de bicicleta nova, trabalhando de carteira assinada na Usina Luciânia. O primeiro a morar numa república e ele começou a divulgar os benefícios de uma cidade! Ele me confidenciou que não conseguiria mais namorar com as moças da comunidade pois elas usavam vestidos largos e muito comprido!

O rádio fez a primeira emancipação e acordou um “leão” que existe em todos os seres humanos. Quando a comunidade ficou sabendo que o Fazinho Sicundino e o Zé Garcia haviam comprado “televisão” causou aquela euforia, aquela aberração e aquela comunidade “pacata” transformou-se num vulcão! E todos venderam seus pedaços de “terra” e compraram uma casa na cidade! E ali na entrada da cidade formaram o bairro Gomes. E o último sitiante a resistir até o fim de sua vida foi o Sr. João Moizés e sua esposa Divina! O açude continua lá, mas com a chegada do bio-combustível de ambos os lados do açude só temos canaviais. E você pode questionar e a outra indústria? Esta continua a fabricar doces e absorveu toda mão de obra braçal da ex-comunidade da “Vargem”! E a televisão efetuou suas seleções e as suas transformações.

moraesvirada
Enviado por moraesvirada em 08/06/2008
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