Caráter Descarado

"(...)Se queres por em prova o caráter de um homem, dê a ele o poder...".

Acho que em todos meus 23 anos de vida, nunca compreendi tão bem esta genial citação. Será que Abrahan Lincoln experimentou sensações como a que estou sentindo? Sinceramente, acredito que sim. Sem drama. Mas ultimamente, quando escuto alguém se referir ao ser humano como o "bicho homem", sinto pena dos bichos.

É tanta desilusão, tanta falsidade, que chego a me perguntar se também não sou como eles. Porque as vezes parece impossível admitir um orgulho, de ser no mínimo sincero, diante de tanta hipocrisia. Em qualquer situação, lá estão os homens de caráter, ora respeitavel, ora duvidoso. Quem aqui tem um bom caráter? Eu não sei o que você pensa. Você não sabe o que penso. Isso me torna talvez o ser mais paranóico do mundo.

Na empresa em que trabalho, estamos vivendo um momento delicado, que envolve problemas financeiros (leia-se desvios de dinheiro, apropriação indevida, diversos trambiques, e o caráter. Ou melhor, a falta dele), protagonizados pelo quase ex-gerente, atualmente sendo submetido a uma auditoria interna. Ele me parecia tão confiável. E eu chamava meu melhor amigo de pessimista quando ele dizia que hoje em dia não se pode confiar nem mesmo na própria sombra. E o também "quase ex" companheiro de trabalho, de quem senti pena e prestei prontamente minha solidariedade e votos de confiança, quando fora vítima de um assalto, logo após sair de um banco e ser assaltado. Peço licença ao fantástico Zé Simão, para plágiar seu mais famoso clichê: "Buemba! Buemba". Não houve assalto. Ou melhor, houve um assalto. Mas não houve vítima. Apenas ladrão. Ou ainda, houve uma vítima. Eu prestei solidariedade para a pessoa errada. Que há três dias, me parecia de muito caráter. E o cara da televisão? Aquele que vi ontem a noite, em seu programa evangélico diário, pedindo aos empresários que entrassem em contato via telefone, para se tornarem patrocinadores da farsa. E garantiu: "Ligue pra gente! Seja um patrocinador do bem. O Senhor acabou de me dizer, que você é o escolhido. Ele me disse agorinha. Ligue já e nos ajude a espalhar a palavra de Deus". Puxa vida, eu me assusto com tamanha honestidade e caráter. Vale ressaltar que respeito todas as manifestações de fé, mas neste caso, posso falar com particularidade, pois presenciei a falta de caráter do cara-de-pau, quando uma pessoa muito próxima recorreu a ele, com últimas esperanças de cura, e foi renegado pelo pastor. Me assusto, e fico com medo. Muito medo do missionário da fé, do colega de trabalho, do gerente-geral, do vizinho pessimista, e, para não ser taxado de mais um hipócrita, fico com medo também de mim mesmo.

F. Pinéccio

Itapira/SP