HUMILDADE E FRAQUEZA

Certa vez fui convidado a escrever o editorial de um caderno especial sobre o dia dos pais. Depois de publicado, vi, sem entender, que a palavra “humildade”, que eu usara no texto como um atributo indispensável aos pais em relação aos filhos, havia sido substituída por “humanidade”. A substituição provocou uma distorção no sentido, que não chegou a ser gritante, mas que nem por isso deixou de ser uma distorção.

O fato permaneceu na lembrança por um determinado período e depois caiu no esquecimento. Tempos depois, durante um curso sobre relações humanas do qual participei, integrei uma equipe incumbida de produzir um trabalho em que se devia relacionar as principais qualidades que a equipe entendia como sendo essenciais ao ser humano na sua relação com os outros. Sugeri a “humildade” como uma qualidade essencial – sempre gostei desta palavra. A equipe concordou, exceto um dos integrantes que reagiu com ar de desdém e sarcasmo.

Ao ser inquirido sobre o porquê daquela reação, o colega de equipe deixou claro que via a palavra humildade como sinônimo de fraqueza, submissão. Em silêncio, lembrei-me da substituição que fizeram no meu texto e fiquei a me perguntar se o(a) jornalista revisor(a) que a fizera também pensava da mesma forma...

Num outro momento, vi numa propaganda de livros usados, num “sebo”, a seguinte frase: “Comprar um livro usado não é humildade, é esperteza!”. Essa frase me remeteu às duas situações que me referi acima; todas elas refletem uma mesma maneira de conceituar as palavras humildade e fraqueza, traduzindo-as como sinônimos.

Não há dúvidas de que essa maneira de pensar é um reflexo da torrente de vaidade, arrogância e pedantismo que se vê por aí. Quem interpreta a humildade como passividade e fraqueza, não sabe que é exatamente o contrário: humildade é sobretudo força – e possibilita crescer cada vez mais.