"Agressão a Idosos" =Crônica do, Infelizmente, Cotidiano=

Acabo de ver na tevê mais uma notícia sobre uma covarde agressão contra um senhor de idade muito avançada. Ou seja, mais uma daquelas notícias que nos deixam revoltados, com vontade de poder fazer justiça com as próprias mãos. De poder dar um cacete bem dado no vagabundo que tem a desfaçatez de agredir um semelhante sem a mínima condição de auto defesa. Deus que me livre e guarde de um dia ficar sabendo que alguém maltratou ou desfeiteou minha mãe ou qualquer outra pessoa idosa de minha família. Tenho certeza de que só ficará inteiro se a polícia pegá-lo antes. “Nóis tudo si junta e desce o porrete...”

Quando eu estava ainda com meus trinta anos de idade mais ou menos, parei com minha mãe em um desses restaurantes de estrada para um lanche rápido. O atendente aproximou-se e perguntou-me, muito respeitosa e simpaticamente:

- O que o senhor deseja?

Fiz o meu pedido e ele se virou para minha mãe:

- E você? O que você vai querer?

Rapaz! Que susto ele levou! Dei uma porrada escandalosa no balcão e o puxei pelo jaleco, falando alto:

- Você, não, seu cretino! Pra você ela é senhora, ouviu, ordinário, se-nho-ra; ouviu? Está pensando que está falando com a piranha da sua mãe, moleque?

Não foi pelo “você”. Foi pelo olhar, pelo modo desrespeitoso, pelo tom de voz do sujeitinho, que minha raiva surgiu e explodiu. Minha mãe sempre foi uma pessoa elegante no jeito de ser, por mais simplesmente que viesse a se vestir. Não havia nada em sua aparência ou porte que o autorizasse a indagar a ela daquele modo.

Depois do susto ele repetiu a pergunta do modo que deveria ter feito logo de cara e desculpou durante todo o tempo em que lá estivemos. E minha mãe ainda não era uma idosa. Muita gente, naquela época, perguntava se ela era minha irmã ou esposa.

Meu pai era do tipo que não levava desaforos pra casa. Era esquentado e enfrentava o que surgisse à sua frente. E surgia cada uma que nem dá pra contar...

Um dia, há muitos e muitos anos atrás, fomos nós dois a um banco resolver uma pendência sobre um carro e o advogado que nos atendeu foi grosso e impaciente desde o início. Eu só olhando pra cara dele e meu pai sossegadão, apenas ouvindo. Eu estava estranhando a atitude de meu pai, calmo e reflexivo, até que me lembrei que ele acabara de tomar uma injeção muito forte para dor, que deve ter afetado suas reações, deixando-o meio abestado, como diria meu amigo Eduardo, e mesmo assim ele quis me acompanhar até lá.

Quando o advogado, à vista da aparente falta de reação de meu pai, deu mais uma de arrogante e casca grossa, passei metade do corpo por cima da mesa dele, peguei-o pela gravata e ajuntei a cara dele à minha, dizendo com ódio,

- Escute aqui, filho de uma puta, você é só advogado, seu merda. Não é autoridade, não é dono do banco, não tem direito de falar assim com ninguém. Abaixe o tom de voz e fale mansinho conosco se não quiser levar muita porrada aqui e agora.

Eu havia acabado de realizar uma mágica: transformei um advogado arrogante e prepotente em uma delicada fada, em uma princesa encantadora, cheia de bons modos e solicitude. Ficou uma gracinha de pessoa, como diria a Hebe Camargo. Tem gente que é igual a certos remédios: tem que ser bem agitada antes do uso.

Minha intenção aqui não foi contar minhas valentias do passado. Foi apenas para fazer uma comparação: se tais fatos, de menor importância, me fizeram subir o sangue porque se tratava de meus pais, nem gosto de imaginar o que me passaria pela cabeça se alguém cometesse alguma violência contra minha mãe, agora idosa, frágil, carinhosa e, como sempre, boníssima. Acho que mataria. E devagar, devagar, devagarinho, se possível.

Fernando Brandi
Enviado por Fernando Brandi em 10/06/2008
Código do texto: T1028381
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