Separatismo?

O tema está na moda. Vários focos espalham e defendem a idéia. Um grupo já chegou a declarar a separação da região Sul, criando a República dos Pampas. Há alguns anos recebemos notícia de que os estados do Nordeste pensavam em separar-se do resto do País. Só assim deixariam de ser discriminados, prestando somente como "macacos de programas de auditório". São Paulo então nem se fala. Sozinho responde pela maioria de todos os setores da economia, podendo viver muito bem sozinho, sem sustentar os vizinhos pobres. Sem falar nos idos da "Guerra dos Farrapos" e do Uruguai, que libertou-se a tempo e hoje vive muito melhor que o Brasil.

No fundo o que está surgindo no País é um sentimento que desapareceu há muito tempo - e muitos pensavam ter sido banido - o Patriotismo. As palavras "Nação", "Civismo" e "Pátria" parecem ter sido esquecidas neste País. Alguns pensavam que as mesmas eram exclusividade de livros de história ou de hinos, desconhecendo sua aplicação prática. Outros se perguntavam se isto não era uma imposição do regime militar. Por isso agora são surpreendidos por um sentimento profundo de defender suas tradições, de insurgir-se contra "parasitas" que, acreditam, sempre estão do lado de fora de suas casas. E o pior é que a exploração tomou dimensões insustentáveis. O Congresso Nacional defende somente os interesses dos grupos econômicos que o elegeram. O mandato corrompe o mandatário. Parece uma máquina de lavagem cerebral. Se os mandatários estivessem mais próximos poderiam ser cobrados com maior eficiência.

Há que se considerar uma diferença entre as repúblicas federativas do Brasil e a dos Estados Unidos, da qual copiamos o sistema. Lá a Federação foi criada pelos Estados independentes, cientes de que unidos seriam mais fortes. Aqui um governo revolucionário depôs a monarquia e instituiu a república que, por falta de opção ou por moda, ficou sendo federativa. No fim o governo central e as dependências econômica e legislativa não foram modificados. Somente foi criada a Câmara dos Estados - o Senado - que passou a legislar juntamente com a Câmara dos Deputados. Mas logo veio a primeira ditadura de Vargas e, morto este, a ditadura militar não demorou. Assim a prática democrática nunca foi exercitada por muito tempo. Daí alguns declararem que o brasileiro não sabe votar. Estranho seria se soubesse. Quem votou três vezes seguidas para Presidente da República, por favor apresente-se. É sério candidato a estrelar o próximo programa "Esta é sua vida". Certamente não tem menos de sessenta anos de idade. Não se pode exigir experiência de quem nunca trabalhou. Não se pode exigir sabedoria eleitoral de quem nunca votou.

Mas sempre houveram eleições legislativas, diria você. Mas que poder tiveram as casas legislativas? - pergunto eu - O governo sempre legislou por decreto, deixando ao congresso a opção de referendar seus atos, que no decurso de prazo estavam aprovados. esvaziar as duas casas para evitar votações era fácil. Talvez tenhamos herdado de tal prática o vexame de que hoje Brasília só trabalha de terça a quinta-feira, se não houver feriado nos outros dias. E ainda pagamos os vergonhosos "jetons", como se discutir e votar leis fosse uma obrigação estranha ao mandato de nossos representantes, que requer remuneração suplementar.

Mas deixemos de lado o que todos sabem para voltar ao nosso tema. O Brasil se ressente da falta de uma geração genuinamente brasileira. Todos nós carregamos com orgulho o nome de nossos antepassados, formando árvores genealógicas para não perdermos nossas origens. Aqueles cujos ancestrais imigrantes estão mais próximos vangloriam-se de suas tradições européias, árabes, africanas, orientais ou o que o valha. Ser puramente brasileiro ou desconhecer seus ancestrais estrangeiros é fator que depõe contra qualquer um que o confesse. É a falta de identidade de uma Nação, dizem os estudiosos. Não vai longe o tempo em que os imigrantes chegavam aos nossos portos para fazer fortuna e retornar às suas pátrias para usufruí-la. Desenvolveu-se um pensamento de que aqui era lugar de muito trabalho e que dinheiro, não importava como era ganho, deveria ser guardado além-fronteira, longe de saqueadores e pilhadores como nós próprios. A fonte não esgotou ou não rendeu os frutos esperados, não sei. Só sei que não foram embora e seus descendentes estão por aí, disfarçados de eu e você.

Quando ouço falar em separatismo não posso conter um pensamento de alegria, amparado no fato de que o patriotismo começa na comunidade, estendendo-se ao bairro, e depois à cidade, ao Estado e ao País. É muito bom ver pessoas lutando por sua identidade. Dizendo aos outros: "Eu nasci aqui e vou lutar por esta terra. Não importa se meu pai, avô ou bisavô nasceu em outro país e veio aqui tentar a sorte. Não importa se eu nasci lá e vim para cá menino, alimentado pela esperança de um dia voltar. Aqui é meu lugar e eu devo dar tudo de mim para fazer desta uma terra boa para se viver. Eu vou juntar-me ao meu vizinho e formar uma Nação nova. Não faz mal se ele é índio, negro ou mestiço. Nós vamos mostrar ao mundo que existimos e que este é um lugar de pessoas honradas, que exige respeito".

É claro que este sentimento não brota no coração de todas as pessoas ao mesmo tempo. Certo também é que ele se transmite antes entre os mais próximos e depois entre os distantes. No fundo todos têm os mesmos problemas, os mesmos objetivos.

Assim, quando concluirmos que uma nova Nação está surgindo em nossos corações e que unidos seremos muito mais fortes, tenho certeza de que não precisaremos dissolver-nos. Formaremos uma verdadeira Federação, onde cada Estado independente dará a contribuição que lhe competir para a manutenção da União. Onde cada cidadão será dono de seu voto, não vendendo nem admitindo que seja "arrebanhado", mas emprestando-o e fiscalizando o uso que dele será feito.

E as escolas voltarão a ensinar a "Educação Moral e Cívica" como algo prático, que as crianças poderão constatar e discutir em suas casas, onde ouvirão seus pais lhes dizendo com orgulho:

"Estou construindo uma bela Pátria para você, meu filho!"