Sacerdotisas

Excomunhão é a pena, e vem acompanhada, mesmo que não explicitamente, de condenação ao inferno, uma vez que a igreja católica já emitiu documento dizendo que fora dela não há salvação. Juntando alhos com bugalhos: fogo eterno para quem ordenar mulheres e as próprias ordenadas. Esse medo retrógrado da cúpula do Vaticano do poder das mulheres é inexplicável, embora a desculpa seja que Jesus tinha apenas apóstolos e não apóstolas. Também se comia com as mãos, a carne de porco era proibida, as vestimentas eram panos em forma de túnicas, não havia chuveiros e, ao invés do Papamóvel, Jesus usou um burrico. Justificativa posta por terra por conta da História, portanto.

Talvez seja o medo da palavra: mulheres sacerdotes seriam sacerdotisas, não é? Sacerdotisa remete a templos e cultos pagãos, o que é inadmissível, parece. Tão inadmissível que o panteão de santos tem todas as características dos deuses greco-romanos e, mesmo, as divindades bárbaras, e várias festividades cristãs têm origem nas festividades pagãs. E não há nada de errado nisso, pelo contrário, pois o cristianismo celebra a vida.

Mulheres podem ser veneradas e a adoração de uma estátua de uma mulher é incentivada, mas exercer a função mais importante e sublime, que é o sacerdócio, lhes é vedado. Lógica impossível de entender. Menos ainda de concordar.

“Personagem cristã”

Quando uma personagem fanática evangélica pirou numa novela, vozes se levantaram contra o autor com argumentos, via de regra, tendenciosos, como se perder a cabeça por fanatismo religioso fosse algo impossível de acontecer. Será que a religião, para algumas pessoas, é veneno que provoca cegueira e burrice? Um deputado federal chegou a ocupar a tribuna para protestar contra o tratamento que a novela deu a “uma personagem cristã”. É verdade que ser deputado federal não é propriamente uma credencial de inteligência quando se analisa pela média, mas insinuar que apenas os evangélicos são cristãos não é apenas burrice, é caso de polícia.

Lembrei-me de um amigo que disse que sua igreja não aceitava homossexuais como membros, porque o homossexualismo não era bíblico. Perguntei se lhes era permitido pagar o dízimo. Respondeu que pagar podiam!

Razão tinha Gibran quando escreveu: “Uma vez por ano Jesus de Nazaré se encontra com o Jesus dos cristãos e ao final, Jesus de Nazaré diz ao Jesus dos cristãos: “não adianta, você nunca vai me entender”.