MANEIRAS DE CONVERSAR

Ultimamente ando conversando muito sobre o passado, o que está me deixando cismada... Será que este meu interesse pelas coisas idas, significa a velhice chegando e eu chegando ao fim? Está certo que eu não sou do tempo em que a maionese (mahonaise) foi inventada. Abro aqui um parêntese para mergulhar na História e dizer que essa deliciosa invenção aconteceu por acaso: foi durante a Guerra dos Sete Anos, quando o marechal duque de Rechelieu capturou a ilha de Minorca após sitiar com sucesso o forte de Mahon e derrotar a esquadra inglesa. Depois DA batalha, tudo que o mestre-cuca conseguiu encontrar para alimentar a tropa foram ovos e óleo com OS quais deu ao mundo um novo molho, que passou a ser chamado de maionese. O rei DA época era Luís XV e quem mandava na França era a maítresse em trite madame de Pompadour.

Depois desta exibição de cultura inútil e já que falei em conversa, me vem à mente o folhetinista José de Alencar, que antes de ser elevado à categoria de romancista famoso, tinha na corte o seu canto de jornal e num de seus escritos fala das muitas maneiras de conversar e exemplifica:

Os mudos conversam por meio de sinais, razão porque nunca dizem asneiras.

Os gagos conversam fazendo caretas mutuamente e arremedando um ao outro; a única diferença que há entre eles e dois amigos é que fazem caretas com a boca, enquanto OS outros as fazem com o pensamento.

Marido e mulher conversam com amuos e espreguiçamentos; quanto mais conversam menos se entendem, porque falam línguas diferentes.

Os políticos conversam enganando-se uns aos outros.Os homens de salão conversam como relógio de repetição ou realejo de valsa. Os diplomatas conversam para não dizer nada. E há até OS indivíduos que conversam para ter o prazer de ouvir a sua própria voz: são OS narcisos DA nova espécie.

Um ministro quando está para se proceder a uma votação importante das Câmaras, conversa com a cara dos deputados e segundo as vê mais ou menos carrancudas, advinha a oposição.

E finalmente, as velhas, que conversam contando histórias do seu tempo, tornando-se assim, uma espécie de calendário manuscrito em brochura.

Vê meu caro leitor, minha cara leitora como José de Alencar tem razão?Para crônica de hoje, esta senhora aqui, foi buscar acontecências nos anos 1756/1856.

Zélia Maria Freire
Enviado por Zélia Maria Freire em 16/06/2008
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