VISITA A MATRIZ DE SANTO ANTONIO NO RECIFE

Atraída pela possibilidade de encontrar livros de batismo, casamento e óbito fui visitar a Matriz de Santo Antonio no Recife. Ao entrar, visualizei o que poderíamos chamar de cemitério, onde estão os restos mortais de pessoas de várias épocas.

Dirigi-me a secretaria da igreja e encontrei um senhor que não recordo o nome no momento, perguntei se ele era o padre, e ele afirmou ser o sacristão, e muito solicitamente me explicou como tudo começou.

A igreja tem pouco mais de 100 anos, e lá encontrei além de túmulos com revestimento de mármore branco. Perguntei se as pessoas ali sepultadas eram ricas, da nobreza. Ele afirmou que ali, no final do século XIX e inicio do século XX, durante as epidemias, principalmente da gripe espanhola, que matou muita gente, as pessoas colocavam os corpos na porta da igreja durante a madrugada, e o sacristão ao abrir as portas pela manhã, via a cena, e o padre mandava-o enterrá-los na lateral da igreja. Havia dias em que amanheciam de 15 a 20 corpos estirados a porta da igreja. Afirmou ainda, que há mais ossos que terra sob o piso de onde nos encontrávamos.

Encontrei verdadeiras preciosidades, como os livros de registros paroquiais de casamento a partir de 1789 até os dias atuais, registros de batismo desde 1832, óbitos desde esse tempo. Alguns estão estragados pelo tempo, outros em perfeito estado, e outros que, apesar do estrago, ainda podem ser manuseados.

Quando vi o estado em que se encontravam algumas daquelas preciosidades, perguntei se não havia microfilmes em algum lugar. Descobri que a Cúria Metropolitana, situada no Bairro da Várzea, contém os microfilmes de registros paroquiais de casamento, batismo e óbito, mas lá existe apenas uma máquina de leitura de microfilmes. No entanto, constam apenas os registros das paróquias da Diocese de Olinda e Recife. Gostaria de saber se as outras Dioceses do Estado de Pernambuco fizeram o mesmo.

A cada livro que abria sentia um misto de esperança e expectativa de encontrar alguma coisa sobre meus antepassados. Encontrei o registro de batismo de uma tia-avó chamada Maria, que deduzi ser Maria do Carmo, vinte dias depois, do falecimento de sua mãe. O pai era nada mais, nada menos que meu bisavô José Soares Brandão, e foi ai que descobri o nome de sua primeira esposa que, provavelmente, morreu de parto. A partir daí, comecei a pesquisar os livros de casamento, voltei lá quatro dias durante duas semanas, e ainda não terminei.

O fato interessante foi ver à curiosidade das pessoas que, por algum motivo, entravam no recinto, ora para solicitar missas, batismos, ora para comprar velas, camisetas, santinhos, etc., quando olhavam para mim e viam-me de mascara, luvas e lupa, achavam estranho, apenas alguns paravam e perguntavam qual era o motivo da minha pesquisa, incluindo um turista. Ele contou que fazia pesquisas nas igrejas, etc., sobre genealogia na Espanha.

No entanto, uma cena chamou-me a atenção. Quase à hora de encerrar o expediente da secretaria, e concluía naquele dia a minha pesquisa, quando entrou um rapaz, de boa aparência. Ele se dirigiu para o canto da sala, onde há uma cômoda antiga e muito grande, forrada com uma grande toalha branca de linho bordada, cheia de gavetas e, acima delas, há algumas peças e imagens, abriu uma das gavetas, retirou uma maleta que parecia ser de médico e uma bata. Vestiu a bata e saiu com a maleta.

Daí a algum tempo ele retornou, guardou a maleta e se dirigiu ao lugar onde eu estava sentada e pediu-me que da próxima vez em que eu voltasse à sacristia, trouxesse gaze, esparadrapo, mercúrio cromo e água oxigenada. Achei esquisito.

Na saída, fui me despedir do sacristão, do padre que acabara de conhecer e da secretaria. Aproveitei e perguntei-a sobre o pedido que o rapaz havia feito, se ele era médico e se prestava assistência na igreja, ao que ela respondeu-me que ele não era médico, mas era doente mental, pensava ser médico e, todos os dias, àquela hora da tarde ia à igreja, repetindo aquele mesmo ritual que eu havia presenciado.

Perguntei a secretaria porque ele havia me pedido os medicamentos, e ela disse que, como eu estava de luvas e mascara daí ele ter pensado que eu era médica. Ainda contou que a cada ambulância da SAMU que passa pela avenida, e corre para o que está acontecendo e quer ajudar.

Certamente, voltarei lá, pesquisarei mais sobre a história da igreja, dos padres daquele período.