O minotauro que devora o coração dos depressivos.

O mundo bipolar é um labirinto intrincado onde só os fortes sobrevivem. Sou bipolar e posso afirmar isso.

A bipolaridade poderia ser considerada uma fragilidade, um processo excludente da sociedade "sadia". Ninguém entende os bipolares. Mas, não é assim, cada vez que um bipolar explica o processo mais pessoas podem (se quiserem) compreender. Ser bipolar é viver eternamente alternado entre um estado de "mais" e "menos", é complicado, é difícil e nos custa uma energia imensa e eu vou explicar por que:

A maioria pessoas gostam de rodas-gigantes e montanhas-russas, apreciam tubo-águas dos parques aquáticos, por que são emocionantes, dão uma tremenda adrenalina, provocam risos e sustos imensos, enfim, é divertido. Depois todo mundo sai pra comer pizza e rir dos sustos. Muito legal.

Agora se imagine vivendo na montanha-russa permanentemente, acordando sem saber nunca se o dia vai ser magicamente lindo ou se vai ser um poço de merda. Imagine que você mora na roda-gigante por toda a vida, e que nunca sabe, quando vai abrir a porta, se a altura do seu degrau da frente tem 20 centímetros ou 20 metros. E acreditem, ninguém vai comer pizza depois de uma queda de 20 metros, não mesmo.

E o pior é que você não pode esperar compreensão das pessoas. Necessariamente é preciso ter, nesta condição, dois grupos distintos de amizades: as que estão com você no "menos" e que, possivelmente serão bipolares ou pelo menos tendem a ser depressivas; e as amizades da fase "mais", que aguentam o pique obssessivo e grandiloquente.

Por que é isso, num dia grandiloquente, megalomago,super-homem, a criatura pode puxar um trem com os dentes e tentará bravamente, arrebentando-se, fazendo loucuras, vivendo perigosamente, no caos absoluto, imprevidente, corajosa, divertida até o absoluto non-sense. Incapacitado para racionalizar o que quer que seja, fere amigos, ofende amores, trai confianças...enfim, um desastre. Os companheiros dessa fase, lamentavelmente, tudo farão para que o indigitado bipolar na fase "mais" cometa os piores absurdos em nome da diversão, quando não se aproveitam do "eu pago" inconsequente, do "eu como" imprevidente, do "eu faço" inconsequente.

Ao entrar na fase "menos" que em geral é a fase da consciência aguda, o bipolar enfrentará as consequências, se culpará, se julgará a pior das pessoas, terá nojo de si mesmo, se deprezará como criatura e ser. É nessa hora que detecta em si essas variações terríveis de personalidade, vê a verdade e se desespera. Se não tiver pelo menos uma pessoa que entenda o que está passando, pode cometer suicídio.

Controlado com terapia contínua e remédios antidepressivos (fracos, por que os remédios fortes, prozacs e afins, em mim fazem o desagradável efeito do "mais" constante, fico incapacitada) o bipolar poderá ter um relativo equilíbrio e viver dentro de uma faixa estreita de normalidade, mas não há cura.

Sou bipolar e vivi todas essas fases péssimas. Nunca encontrei uma total compreensão do meu problema por pessoas que não são bipolares como eu. E hoje reconheço que é muito dificil mesmo, para os que não sabem, entender esse mundo tão multifacetado, esse labirinto onde o minotauro está numa ponta e a fada dos desejos na outra, sendo que ambos são extremamente perigosos.

Hoje eu prefiro enfrentar o minotauro que devora o coração dos depressivos da fase "menos" que a enganadora fada dos desejos da fase "mais", enquanto o equilíbrio não vem, é mais seguro.

O T-REX chora comigo, ele entende o que eu digo e lembra que devorou muitos corações sob minhas ordens.