Confissões  Sobre Amores e Dores.


O que me motiva falar de dores? Sentí-las, apenas. Quando curo a desilusão e passo a rir desbragadamente, feliz da vida, lá vem a dor na coluna cervical, que repercute nos braços e nas mãos. 

Pior ainda: limita-me o prazer de escrever.

Pois bem, lá vem Evelyne se lamentando de novo, dirão. Mas não choro mais. Não hoje. Essa dor está sendo administrada com anti-inflamatórios fortes, receitados pelo médico especialista e não me faz chorar, apenas reclamo, pois tenho uma natureza que me leva a falar tudo que sinto.

Uma imprudência, essa compulsão, eu sei. Mas e daí? Não costumo sair agredindo pessoas com as minhas falações e quando o faço peço mil desculpas. Taí você que não me deixa mentir.

Já melhorei muito. Guardo na minha gaveta do trabalho A Arte da Prudência, de Baltazar Gracian, presente de Janine, minha amiga brilhante, que me conhece bem, apesar de morar longe. Pelo menos naquele ambiente eu já me contenho mais. Dei adeus aos discursos inflamados e só falo certos assuntos se não for possível conter a minha indignação.

Aqui nos meus escritos, já exaltei um amor lindo e por ele chorei cachoeiras. Aqui também danço, canto, pinto e bordo. Tudo em harmonia com o que sinto.

Egocêntrica? Sou sim e não nego, mas não ao ponto de esquecer ou fechar meus olhos aos que me rodeiam e que de mim precisam. Também acaricio meu ego quando afago quem gosto.

Ainda peço que não me julguem mal. Faço psicoterapia há anos. Tento me entender todos os dias. Sei que erro mais que acerto, porém ainda preciso muito falar sobre mim e não me darei ao trabalho de fingir o contrário.

A meu favor direi que é uma fase de auto-afirmação e que um dia serei tão humilde como desejo ser.

Por hora falarei de amor e de dor, sem me deixar  podar pelo medo de ser rotulada de narcisista ou piegas. Sentimental eu sou. Ególatra também sou. E como disse Paulo Ludmer em seu comentário a um texto meu no Comunique-se: "Furtado, a palavra EU continua a mais pronunciada em várias línguas...”.